PARTIDOS SE DESCONECTAM DO ELEITOR E INTERNET VIRA PARLAMENTO VIRTUAL
Por Fernando Castilho
A presidente Dilma Rousseff avalia se fará na próxima sexta-feira o
tradicional pronunciamento de 1º de maio. Teme haver um novo panelaço
virtual convocado pela internet e que se materializa com o liga-desliga
de luzes nas cidades e pessoas batendo panelas nas varandas.
No país em que os partidos estão cada vez mais reduzidos a atividade
meramente congressual, que poderia também se dizer dedicados a seus
interesses burocráticos, a desconexão entre os objetivos partidários e
os anseios da sociedade ficou tão grande que já tem cientista político
achando que a internet pode se tornar o único canal de conexão efetivo
entre o governo e a sociedade.
De tal forma que o que a onda de menções no Twitter, Facebook,
Instagram e Linked-In seu tornariam tão efetivas que seria melhor o
governo “filtrar” o que a sociedade deseja primordialmente e assumir
essas bandeiras que de tão representativas obrigariam os partidos a
serem forçados a referendá-las.
Naturalmente, e felizmente, estamos longe de uma sociedade governada
por uma Democracia Digital Direta (sempre passível de manipulações
cibernéticas e de robôs de cliques),
mas o alerta sobre a fragilidade do
Parlamento e sua desconexão com a sociedade é oportuno.
O problema não é a presidente da República, com apenas 120 dias de
governo, não poder se dirigir aos seus concidadãos para falar dos temas
mais importantes para nossa economia sob pena de não ser ouvida. O
problema é ver os partidos não serem capazes de captar essa insatisfação
para sua ação no Congresso.
Ou, como ficou mais constrangedor: não terem condições de erguer suas
bandeiras nestas manifestações sob pena de também serem expulsos. E não
estamos falando aqui do PSDB, mas dos partidos de esquerda que são
tradicionalmente contra o governo do PT. Da mesma forma que o PT, em
tese, o partido da presidente ser obrigado a “subcontratar” militantes
para levantar bandeira em manifestação em que a audiência é altamente
constrangedora pela falta de legitimidade.
Esse quadro é novo e ao mesmo tempo preocupante. Assim como os
movimentos ainda não foram capazes de definir um foco de reivindicação
objetiva que lhe permita uma ação no Parlamento, não há, hoje, uma
proposta honesta do PSDB para a crise porque ele não conseguiu capturar a
frustração dos cidadãos pelo seu comportamento ambíguo e flácido no
Congresso.
O PSDB não tem uma proposta de governo melhor porque tem medo de
assumir as medidas que o governo do PT está tomando e porque teme a
repercussão negativa nas ruas e na Internet. Dito de outra forma: o PSDB
não tem coragem cívica de assumir o Programa de Ajuste do Governo
Dilma, que na campanha foi seu, porque teme ser criticado nas ruas e nas
redes sociais.
Por outro lado, o PT insiste em manter seu programa quando em quatro
anos ele fracassou. Ou alguém acha que não foi exatamente por defender
as teses econômicas do PT que Dilma Rousseff afundou o país numa crise
que, hoje, o governo dela não sabe como resolver sem que adote as teses
do PSDB que hoje não tema coragem defendê-las?
O mais grave é que nesse quadro o Congresso Nacional simplesmente não
toma conhecimento do que acontece nas ruas, ou no cyberespaço. Ele foi
cuidar de sua agenda doméstica e de interesses proto-grupos que se
aproveitam dessa desconexão para apresentar uma pauta que está a
quilômetros dos temas de interesse da sociedade dentro desta crise.
Claro que a eleição de um personagem como Eduardo Cunha ajuda a
montar uma pauta que inclui temas como regulamentação da terceirização,
a redução da maioridade penal, da flexibilização do porte de armas com
mudanças no Estatuto do Desarmamento e o chamado Estatuto da Família.
Rigorosamente nenhum desses temas está na ordem do dia do país. Na
verdade, eles são a expressão dos interesses mais medíocres do
Congresso. Mas, eles vão entrar na ordem do dia porque interessam a
grupos que não estão interessados em ter qualquer conexão com a
sociedade, mas com os seus interesses diretos. Mas, o Eduardo Cunha
“amarrado em nome de Jesus” põe essa pauta na ordem do dia.
Dito de outra forma: o Congresso vai por um caminho e a sociedade nas
ruas e na internet vai por outro. E os partidos que poderiam defender
as teses de verdadeiro interesses imediato da sociedade não se atrevem a
ir às ruas ou a TV defendê-las por terem medo do feedback e de uma
maior interlocução com o cidadão. Ou alguém acha que o pedido de aumento
no repasse ao Fundo Partidário em 2015 de R$ 289 milhões para R$ 867,5
milhões tema ver com o momento atual?
Não se sabe se a presidente Dilma Rousseff vai à TV falar do desafio
que se tornou manter o nível de empregos e da necessidade de um ajuste
que vai exigir sacrifícios de todos os brasileiros. Mas, sabemos que não
terá qualquer repercussão no Congresso, que está tão interessado no 1º
de maio quanto aquele trabalhador que só se interessa pela data porque,
ela sendo numa sexta-feira, vira um feriadão
Fonte: JC Online
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