quarta-feira, 27 de maio de 2015

A C B F E A MÁFIA

Juca Kfouri

 

POR MARILIZ PEREIRA JORGE, na Folha de S.Paulo

Toda vez que leio sobre a CBF tenho a sensação de ver um episódio de “Os Sopranos”. A série, criada por David Chase e produzida pela HBO, contava a história de um mafioso e seus comparsas, crimes, corrupção, mulheres e dinheiro.

 

Sou uma das milhares de órfãs de Tony Soprano, o protagonista. Mas o mundo da CBF sempre mata um pouco da saudade da série.


O novo presidente, Marco Polo Del Nero, poderia bem ser um dos amigos do personagem principal. Ou o próprio. Tem nome de mafioso, careca de mafioso, corpulência de mafioso, namoradas com cara de namoradas de mafioso e comanda entidade que, teoricamente, é uma empresa idônea, mas que vira e mexe tem que provar que é idônea.


É só jogar no Google: CBF, escândalos, corrupção. Impressionante.


Na sexta (15), a notícia era a demissão de Ariberto Pereira dos Santos, ex-tesoureiro da entidade na gestão de Don Ricardo Teixeira. Há um ano, ele comandava o departamento de futebol feminino. Sinal de que seus dias estavam contados.


Vamos combinar que é uma baita perda de poder você, um dia, comandar a dinheirama que rola na CBF e, no dia seguinte, ganhar de presente a direção do departamento de futebol feminino.


Nem precisa ser feminista para saber que, para a CBF, o futebol feminino é a irmã feia da família.


Assim como os parceiros de Tony Soprano, Ariberto parece super gente boa. Usava o banco Rural, investigado na época do mensalão, para fazer as operações cambiais da CBF, o que fez com que a entidade perdesse cerca de R$ 30 milhões quando o Banco Central decretou a intervenção do Rural.


Foi investigado pela CPI do Futebol e acusado de operar um caixa dois –aquelas histórias de CPI que quase nunca dão em nada. Por fim, admitiu usar uma conta particular para gerir recursos da CBF.

 

Ricardo Teixeira, o ex-presidente que reinou no cargo durante 23 anos, está sendo acusado de ter votado no Qatar para sediar a Copa de 2022 em troca de dinheiro, favores e garantias, segundo o livro “Ugly Game”, lançado no mês passado pelos jornalistas ingleses Heide Blake e Jonathan Calvert.

 

Os jornalistas contam que o ex-secretário da Fifa Michel Zen Ruffinen aparece em vídeo explicando o que cada membro da Fifa esperava em troca de seu voto. “Teixeira é dinheiro”, disse sobre o brasileiro.

 

Tony Soprano também era chegado em qualquer negociação que envolvesse grana. Tutti buona gente.

 

Mas o que eu gosto mesmo são as fofocas em que o nome e as fotos de Don Del Nero aparecem. Não precisa nem ler o noticiário esportivo. Elas estão em revistas do tipo “Caras”, “Contigo” ou no “F5″, o site de entretenimento da Folha.

 

Don Del Nero ganhou dos amigos o apelido de “Olacyr de Moraes do Futebol”. Achei que era por causa do salarião de R$ 200 mil, mas a história por trás do apelido é muito melhor. O dirigente coleciona namoradas que poderiam ser suas netas.

 

Currículo das moças: modelo. Para uma deu dinheiro para que ela desse entrada num apartamento e mexeu os pauzinhos para que fosse passista de uma escola de samba.

 

Para outra, um Mercedes Benz, que custava a bagatela de R$ 200 mil. Mas essa tinha posado para a revista “Sexy”, que fique bem entendido. Essa, inclusive, já é passado. A fila anda. Don Del Nero troca de namorada como Dunga troca a escalação da seleção.

 

Os babados da CBF são sempre muito mais saborosos do que os da ficção. Tony Soprano fez escola. Ou será que foi o contrário?

 

Fonte: blog do Juca Kfouri

Nenhum comentário:

Postar um comentário