Num domingo ensolarado, dia 24 de abril de 1994, a comunidade
de Maranguape II decidiu “peitar” os poderosos e interditar um trecho da PE-22,
uma das vias preferenciais de acesso às praias
do município de Paulista.
Às dez horas da manhã
a rodovia já apresentava um intenso tráfego de veículos quando uma verdadeira
multidão ostentando faixas, cartazes e bandeiras e com galhos de árvores, troncos de madeiras e
pneus incendiados bloquearam a passagem e desviaram o trânsito pelas principais
avenidas do conjunto habitacional que se encontravam totalmente esburacadas.
A manifestação durou quase duas horas registrada pelos
jornais
“Diário de Pernambuco” e “Jornal do Comercio” e pelas
televisões Tribuna e TV Jornal.
Os manifestantes distribuíram uma “Carta aberta” às
autoridades assinada pela Diretoria
Executiva da Associação de Moradores onde reivindicavam melhorias para o bairro
que encontrava-se totalmente “esquecido” pelas Administrações estadual e
municipal.
A diretoria Executiva da Associação de Moradores do bairro já
havia protocolado vários ofícios e participado de dezenas de reuniões com
secretários estaduais e municipais reivindicando o recapeamento asfaltico das
avenidas “A” e “B” que estavam total mente esburacadas e já havia escassez de
produtos no comercio local pela
dificuldade de acesso dos caminhões que transportavam as mercadorias;
As escolas públicas e postos de saúde sucateados apresentando
falta de funcionários, médicos e medicamentos;
Esgotos escorrendo a céu aberto pelas vias públicas;
O transporte coletivo
era feito por ônibus em péssimos
estado de conservação;
O Prefeito da cidade juntamente com um vereador havia
permitido a “invasão” da praça principal da comunidade por barracas e
barzinhos;
A comunidade era conhecida como um bairro violento e uma das
principais reivindicações era a construção de um posto policial.
Algumas pessoas da comunidade diziam que o bairro estava “esquecido” pelo fato do presidente da
Associação não haver
apoiado o Prefeito José Resende e
quando faltava uma hora para o inicio da
passeata de protesto o presidente do Conselho fiscal da Associação sugeriu ao
presidente da Associação que renunciasse ao cargo porque na frente da sede da
associação havia apenas 4 gatos pingados e que a comunidade não participaria do
protesto porque um Vereador da cidade, o líder do Prefeito na Câmara havia
circulado com um carro de som pelas ruas do bairro solicitando a população que
não participasse da passeata de protestos.
Em nenhum momento pensei em desistir da manifestação e quando
faltavam 10 minutos para a hora marcada a comunitária diretora da quadrilha
junina “Arrasta pé” a saudosa dona Lourdes chegava ao local comandando 70
integrantes da quadrilha.
Em seguida chegou o saudoso Mário Gomes com o seu carro de
som e após um giro rápido convocando a comunidade, percebemos a aglomeração de
aproximadamente duas mil pessoas na frente da sede da associação de Moradores e
com a presença da imprensa falada,
escrita e televisiva demos inicio à
passeata num clima de muita alegria, descontração e revolta contra as
autoridades que só atendem as reivindicações das comunidades se houver muita
luta!
E, assim, uma semana após a grande passeata em que a
comunidade de Maranguape II peitou os poderosos todas as reivindicações começaram a ser atendidas.
Algum tempo depois... Fui convidado para juntamente com o
Prefeito do município, o Secretario de Defesa social do estado de Pernambuco e
outras autoridades “cortarem” a fita simbólica e descerrar a placa de inauguração do
Núcleo Comunitário de defesa social da
comunidade de Maranguape II.
Escrito por Cláudio Lima.
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