terça-feira, 26 de julho de 2016

No Túnel do tempo... O dia em que Maranguape II demonstrou a sua força aos poderosos

Foto:  Arquivo Google

Foto:  Arquivo Cláudio Lima

Num domingo ensolarado, dia 24 de abril de 1994, a comunidade de Maranguape II decidiu “peitar” os poderosos e interditar um trecho da PE-22, uma das vias preferenciais de acesso às praias  do município de Paulista.

 Às dez horas da manhã a rodovia já apresentava um intenso tráfego de veículos quando uma verdadeira multidão ostentando faixas, cartazes e bandeiras  e com galhos de árvores, troncos de madeiras e pneus incendiados bloquearam a passagem e desviaram o trânsito pelas principais avenidas do conjunto habitacional que se encontravam totalmente esburacadas.

A manifestação durou quase duas horas registrada pelos jornais
“Diário de Pernambuco” e “Jornal do Comercio” e pelas televisões Tribuna e TV Jornal.

Os manifestantes distribuíram uma “Carta aberta” às autoridades assinada pela  Diretoria Executiva da Associação de Moradores onde reivindicavam melhorias para o bairro que encontrava-se totalmente “esquecido” pelas Administrações estadual e municipal.

A diretoria Executiva da Associação de Moradores do bairro já havia protocolado vários ofícios e participado de dezenas de reuniões com secretários estaduais e municipais reivindicando o recapeamento asfaltico das avenidas “A” e “B” que estavam total mente esburacadas e já havia escassez de produtos no comercio local pela  dificuldade de acesso dos caminhões que transportavam as mercadorias;

As escolas públicas e postos de saúde sucateados apresentando falta de funcionários, médicos e medicamentos;

Esgotos escorrendo a céu aberto pelas vias públicas;

O transporte coletivo  era feito por ônibus  em péssimos estado de conservação;
O Prefeito da cidade juntamente com um vereador havia permitido a “invasão” da praça principal da comunidade por barracas e barzinhos;

A comunidade era conhecida como um bairro violento e uma das principais reivindicações era a construção de um posto policial.

Algumas pessoas da comunidade diziam que o bairro  estava “esquecido” pelo fato do presidente da Associação  não  haver  apoiado o  Prefeito José Resende e quando faltava  uma hora para o inicio da passeata de protesto o presidente do Conselho fiscal da Associação sugeriu ao presidente da Associação que renunciasse ao cargo porque na frente da sede da associação havia apenas 4 gatos pingados e que a comunidade não participaria do protesto porque um Vereador da cidade, o líder do Prefeito na Câmara havia circulado com um carro de som pelas ruas do bairro solicitando a população que não participasse da passeata de protestos.

Em nenhum momento pensei em desistir da manifestação e quando faltavam 10 minutos para a hora marcada a comunitária diretora da quadrilha junina “Arrasta pé” a saudosa dona Lourdes chegava ao local comandando 70 integrantes da quadrilha.

Em seguida chegou o saudoso Mário Gomes com o seu carro de som e após um giro rápido convocando a comunidade, percebemos a aglomeração de aproximadamente duas mil pessoas na frente da sede da associação de Moradores e com  a presença da imprensa falada, escrita e televisiva  demos inicio à passeata num clima de muita alegria, descontração e revolta contra as autoridades que só atendem as reivindicações das comunidades se houver muita luta!

E, assim, uma semana após a grande passeata em que a comunidade de Maranguape II peitou os poderosos todas as  reivindicações começaram a ser  atendidas.

Algum tempo depois... Fui convidado para juntamente com o Prefeito do município, o Secretario de Defesa social do estado de Pernambuco e outras autoridades “cortarem” a fita  simbólica e descerrar a placa de inauguração do Núcleo Comunitário de defesa social  da comunidade de Maranguape II.

Escrito por Cláudio Lima.

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