quinta-feira, 28 de junho de 2018

A fibra de Manuela D'Ávila contra o anti-jornalismo do Roda Viva






A participação da pré-candidata a presidenta Manuela D'Ávila (PCdoB) no programa Roda Viva, da TV Cultura, foi degradante. Não pela participação da candidata, pelo contrário. Manuela se mostrou aberta ao debate como sempre e não fugiu das perguntas durante a entrevista. O problema deu-se pela escolha e despreparo dos entrevistadores, que se sentaram no outrora agradável (e agora modorrento) estúdio e promoveram toda a sorte de ataques contra a deputada estadual.
O nível dos entrevistadores já era prenúncio do espetáculo dantesco que se seguiria: coordenador do programa de agronegócio do partido de Bolsonaro, Frederico D´Ávila, a jornalista da Jovem Pan e crítica contumaz da esquerda, Vera Magalhães, e o economista liberal Joel Pinheiro da Fonseca. Capitaneados pelo jornalista Ricardo Lessa, o que se viu em seguida foi um tiroteio desonesto contra Manuela.
Os primeiros blocos do programa dedicaram-se a atacar o PCdoB em um nível de argumentação de comentarista de portal hegemônico. Queriam que Manuela respondesse se 'Josef Stalin é legal e se Mao Tse-Tung é um cara legal' e se ela defende para o Brasil ‘o modelo comunista da Venezuela que faz o povo passar fome'. Teve de tudo, passando por 'o partido do Hitler era o PT da Alemanha' até o clássico 'a CLT é inspirada em um texto de Mussolini'.
Os blocos seguintes falaram sobre Lula e nada mais. Queriam arrancar da candidata comunista uma acusação de machismo contra o ex-presidente, queriam que ela ‘assumisse’ que, se Lula ordenasse, ela abriria mão da candidatura. Buscaram deslegitimar a candidatura da deputada e colocá-la como 'step' de outros candidatos. Tentaram, de forma extenuante, tirar de Manuela a manchete da Jovem Pan e do Antagonista nesta terça-feira. Não conseguiram.
As falas da pré-candidata foram entrecortadas por réplicas indevidas dos entrevistadores. O tempo todo, Manuela foi impedida de completar raciocínios e concluir o que dizia. As perguntas que a ela eram dirigidas já vinham com respostas e interpretações próprias, e não eram feitas para conhecer o que pensa a deputada gaúcha, mas para reafirmar convicções de quem perguntava.
O que se viu no Roda Viva foi uma arapuca contra Manuela. Não se exerceu, durante a hora em que o programa esteve no ar, jornalismo propriamente dito, onde imagina-se que o interlocutor esteja preparado para perguntar e para ouvir as respostas do entrevistado. O que se viu foi uma bancada que queria sangue, que queria falar mais do que ouvir e que queria garantir que seus posicionamentos, e não os da entrevistada, ficassem claros. Conseguiram.
Analisadas as circunstâncias, Manuela se saiu bem. Não fugiu do debate, mesmo quando o debate foi feito apenas para que ela defendesse o stalinismo ou chamasse Lula de machista.
Nos poucos momentos onde pôde falar, disse que defende um modelo brasileiro de socialismo e que não pretende beber das fontes (contaminadas, obviamente) das experiências conhecidas de socialismo.
Disse que abriria mão da candidatura para a construção de uma candidatura única do campo 

WILLIAM DE LUCCA
Jornalista e especialista em marketing digital. Atualmente, é ativista digital, lgbt e de direitos humanos, coordena o marketing do Sindicato dos Bancários de SP, apresenta o programa Estúdio Diversidade, na TV 247, e escreve sobre diversidade no site Brasil 247

Fonte:  Brasil 247

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