A VIRADA DE SALGUEIRO
Cidade no Sertão de Pernambuco
afastou fama de "capital do Polígono da Maconha" e hoje possui taxa de
homicídios dentro dos padrões da ONU
Salgueiro fica a 509 quilômetros do Recife, no Sertão de Pernambuco
Diego Nigro/JC Imagem
"Quando comecei a trabalhar
aqui, Salgueiro era o que a gente podia chamar de terra sem lei. Era a
polícia de um lado, os bandidos do outro e os poucos negociantes ficavam
no meio, servindo os dois lados. Com o passar dos anos, as coisas
avançaram. Pode perguntar a qualquer morador. Uns mais, outros menos,
mas todos vão dizer que tudo está melhor por aqui, inclusive a
segurança.” O testemunho é do empresário José Carlos Silva Saraiva, 47
anos. Com a experiência de quem há 27 anos gerencia uma rede de postos
de gasolina e restaurantes, Carlinhos, como é mais conhecido, assistiu
de perto à transformação pela qual passou o município sertanejo.
Distante 509 quilômetros do Recife, Salgueiro deixou para trás a nada
honrosa alcunha de “capital do Polígono da Maconha” para ser a única
cidade pernambucana de médio ou grande porte dentro dos parâmetros da
Organização das Nações Unidas (ONU) para a análise da taxa de
homicídios.
A Organização Mundial da Saúde (OMS),
agência subordinada à ONU, classifica como tolerável uma taxa de
homicídios de até dez vítimas por cada grupo de 100 mil habitantes.
Acima do índice, a violência passa a ser considerada endêmica no local.
Com quase 60 mil moradores, Salgueiro fechou o ano passado com o
registro de sete assassinatos, quatro na área urbana e outros três na
zona rural, e uma taxa de 10,2. O município também é sede da Área
Integrada de Segurança (AIS) com a menor taxa de homicídio de
Pernambuco. Para efeito estatístico, o Estado foi dividido em 26 áreas.
Formada ainda por outras seis cidades (Mirandiba, Cedro, Verdejante,
Serrita, Terra Nova e Parnamirim), a AIS-23 registrou em 2014 a taxa de
11,8.
Em 2007, início do Pacto pela Vida,
programa de combate à criminalidade cujo principal objetivo é reduzir a
ocorrência de assassinatos, a taxa era de 17/100 mil habitantes. De lá
para cá, Salgueiro experimentou um crescimento econômico, impulsionado
pelas vagas de emprego formal geradas pelas obras da Transposição do São
Francisco e da Transnordestina. No auge, foram cerca de oito mil
operários em ação e toda uma cadeia direta e indireta de serviços.
Atualmente, os canteiros de obra estão
desocupados e os trabalhadores, desmobilizados. Mas, como o município
não atravessou desarranjo social comum aos centros econômicos, a taxa de
homicídio conseguiu ser reduzida em 30%. Quem vive em Salgueiro e
assistiu ao aquecimento da economia local acredita que o fato dos
moradores terem sido capacitados e depois empregados nas obras foi
fundamental para fazer a cidade crescer sem que a violência acompanhasse
a prosperidade.
“Muitos que eram garçons, frentistas ou
motoboys foram treinados para aprender a operar máquinas pesadas.
Passaram a ter qualificação e carteira assinada, sem precisar se
deslocar e ficar longe das famílias. Alguns depois foram convidados para
trabalhar em outros locais e seguiram com a Odebrecht (construtora
responsável pelas obras e hoje no epicentro da Operação Lava Jato) para
outros locais”, relembra Claudney Santos. Ele voltou a ser garçom após o
fim das obras, onde trabalhava como operário. Entre 2007 e 2008, o PIB
de Salgueiro saltou de R$ 236 milhões para R$ 290 milhões. Em 2010, como
consequência direta do aquecimento da economia local, o município
registrou um crescimento de 350% na arrecadação do ISS (imposto cobrado
sobre serviços).
O plantio de maconha na região ainda é
uma realidade. Como um batalhão da Polícia Militar e uma delegacia da PF
têm sede no município, porém, as quadrilhas preferem cultivar roças da
planta em outras cidades do Polígono, como Floresta, Belém de São
Francisco, Cabrobó, Orocó e Santa Maria da Boa Vista. Salgueiro tem
servido mais como rota de passagem para a distribuição da droga.
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