Se havia uma lacuna entre movimentos sociais e “crise hídrica”, ela
não existe mais. O Coletivo de Luta pela Água está em formação e já
conta com diversas entidades como Central de Movimentos Populares, União
dos Movimentos de Moradia, Federação das Associações Comunitárias do
Estado de São Paulo, Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental, Fórum
Paulista de Participação Popular, Movimento dos Atingidos por Barragens,
Rede Nossa São Paulo, Central Única dos Trabalhadores e Sindicato dos
Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo.
Não é uma iniciativa relâmpago. As entidades estavam desde o ano
passado lutando isoladamente por soluções e o objetivo de agora é o de
unificar e ampliar ações que pressionem o Governo do Estado a tomar as
medidas urgentes que a questão demanda. Não de maneira unilateral,
obviamente. As
entidades querem participar das resoluções. O manifesto
explicita ser “necessário que o Governo do Estado aja com total
transparência e mobilize órgãos como Cetesb, Secretaria do Meio
Ambiente, Defesa Civil, Secretaria da Saúde e Educação para atuar de
forma conjunta e garanta a participação da sociedade e prefeituras em
todo o processo de debate para enfrentamento da crise”.
É justo. A deixar do jeito que está, já se sabe de quem o sacrifício
maior será cobrado e o governador Alckmin conta com habilidade e apoio
para terceirizar a responsabilidade da crise sendo que ela é fruto muito
mais da falta de obras e ao modelo da gestão privada do que da falta de
chuvas. Na verdade, não há uma “crise hídrica”, o que há é um modelo
ganancioso (e suicida) de exploração desse recurso.
Ponto fundamental defendido pelos movimentos é a necessidade da
decretação imediata do estado de calamidade pública para que medidas
emergenciais como a priorização para abastecimento humano e
dessedentação de animais, plano de atendimento ininterrupto para
serviços públicos como escolas, hospitais, creches, aeroportos e imóveis
em que residam populações internadas ou vulneráveis, sejam tomadas.
Além disso, exigências como administrar com equidade a falta d’água
(seja por racionamento ou redução de pressão) de modo a não penalizar a
população de periferia que passa dias seguidos à seco e preparar medidas
jurídicas que possibilitem a requisição de poços artesianos e todas as
fontes disponíveis de água para direcioná-las ao uso prioritário estão
no manifesto.
“Estamos pedindo uma audiência também com o prefeito Fernando Haddad
para reiterar a carta que foi enviada a ele pelo Conselho Municipal das
Cidades, subscrita por mais de uma dezena de entidades, que reforça a
necessidade da prefeitura ter um papel mais proativo nessa crise.
A Sabesp opera em 366 cidades no estado de São Paulo. A capital
sozinha é responsável por 52% do faturamento que a empresa tem e ela tem
obrigações a cumprir com a cidade por meio de contrato. A prefeitura
precisa ser mais incisiva”, disse Edson Aparecido da Silva, da Frente
Nacional pelo Saneamento Ambiental.
A campanha midiática de Alckmin/Sabesp, tanto a publicitária por vir
quanto a já vigente através do jornalismo da grande mídia,
responsabiliza o consumidor e estimula uma guerra entre vizinhos que se
vigiam e denunciam-se mutuamente. Por que não vigiar os vazamentos da
Sabesp que desperdiçam quase um terço da água em seus encanamentos? Por
que não se divulga para a sociedade os contratos para os grandes
consumidores e qual a quantidade de água potável fornecida a eles?
“O que precisamos fazer é o pedido de interrupção, na Sabesp, de
todas as medidas que não priorizem o abastecimento para a população. A
questão dos contratos que a Sabesp tem com empresas como shopping
centers, por exemplo. Se não for para abastecer a população, pediremos a
suspensão desses instrumentos”, declarou Adi Lima, presidente da CUT.
A grande mídia mais uma vez executa à perfeição a disciplina de
desinformar e entorpecer com meias verdades o cidadão. Cabe agora um
imenso engajamento popular pela questão da água. E não apenas no sentido
de economizar mas também no de cobrar a responsabilidade dos
verdadeiros culpados. São Pedro não está entre eles. O descaso
irresponsável lá de trás terá consequências sérias em termos de emprego,
saúde e habitação ali na frente.
O primeiro grande ato está marcado para o dia 20 de março (ainda sem
horário e local definidos) quando se promoverá o Tribunal Popular da
Água, que julgará a responsabilidade do governador.
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Sobre o Autor
Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo
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