Afasta de mim essa redução da maioridade, pedem ativistas
Vista como guinada à direita, proposta de redução da maioridade penal mobiliza organizações de direitos humanos
5 dias atrás por Cristina Camargo
Os ativistas que combatem a proposta de redução da maioridade
penal tiveram um motivo para comemorar na semana passada: Chico
Buarque, o cantor e compositor conhecido pelo apoio às causas sociais,
aderiu à campanha contra a redução, posou para fotos e gravou um vídeo
para ajudar na mobilização “AfastaDeMimEssaRedução”.
“Sou absolutamente contra a redução da maioridade penal”, declarou em
vídeo gravado pela campanha Amanhecer Contra a Redução. “A juventude
precisa de mais cultura, mais educação e menos cadeia”, completou.
Sem dúvida a postura do artista e de outras pessoas e organizações
famosas ajuda o assunto a ser debatido. No entanto, neste Dia de Luta
contra a Redução da Maioridade Penal, é preciso ressaltar também o
trabalho de pessoas e organizações menos conhecidas, que atuam nas
favelas e periferias, ou seja, junto às comunidades que serão mais
afetadas caso a proposta seja aprovada.
No dia a dia, essas pequenas organizações enfrentam as dificuldades
de mostrar os perigos embutidos na PEC 171/1993 (Proposta de Emenda à
Constituição), que tramita no Congresso Nacional e propõe a redução da
maioridade penal de 18 para 16 anos.
“Participamos da Frente Estadual Contra a Redução da Maioridade Penal
no Rio de Janeiro e integramos também a Frente Nacional”, conta
Fransérgio Goulart, do Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro.
A organização é apoiada pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos e
realiza ações em favelas e bairros da periferia como o Complexo do
Alemão, Maré e Campo Grande.
“Sabemos que esses territórios negros e pobres serão os principais violados mais uma vez caso a PEC 171 seja aprovada”, diz.
No Fórum de Juventudes, as mães e familiares de vítimas do Estado são
os protagonistas da mobilização contra a redução da maioridade penal.
Panfletagens, saraus e outras intervenções culturais são estratégias
usadas para combater a possibilidade de redução da maioridade.
Para a Amparar (Associação de Amigos e Familiares de Presos), a
proposta de reduzir a maioridade penal faz parte da guinada à direita em
relação ao tratamento que a sociedade brasileira destina aos
adolescentes que fazem parte da classe trabalhadora.
Na
avaliação da Amparar, a violência cresce não por causa da adolescência,
mas devido à configuração do estado capitalista, que alimenta e lucra
com a violência.
“O maior criminoso, na verdade, é o próprio estado, que
permanentemente viola os direitos básicos das crianças e dos
adolescentes pobres”, aponta a Amparar.
Desde sua fundação, a Amparar, apoiada pelo Fundo Brasil, realiza
ações contra o encarceramento de adultos e da juventude como a
participação em debates e atos contra a redução da maioridade penal.
Afronta
Para a Anistia Internacional, crianças e adolescentes não devem ser
tratados como se fossem adultos quando, na verdade, estão em processo de
desenvolvimento físico e psicológico.
Ser contra a redução da maioridade não significa que os adolescentes
não serão responsabilizados por seus atos. A partir dos 12 anos, quem
comete infrações no Brasil é julgado e submetido a medidas
socioeducativas que podem chegar à privação de liberdade.
Para a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), a redução da
maioridade é uma afronta à Convenção sobre os Direitos da Criança,
instrumento de direitos humanos mais aceito na história universal,
assinado por 193 países, inclusive o Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário