O áudio que levou para a prisão o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e
o banqueiro André Esteves pode ajudar a elucidar parte dos vazamentos
acerca da Operação Lava Jato. Em um trecho da conversa, Edson Ribeiro,
advogado de Nestor Cerveró, e Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da
Petrobras, afirmam que um agente da Polícia Federal vende informações
sigilosas.
O diálogo ocorre após Delcídio relatar aos interlocutores ter visto,
com André Esteves, uma cópia da minuta da delação premiada negociada por
Cerveró com os procuradores. O senador petista discute o teor do
material, lamenta o vazamento e diz não saber quem vazou. Ele, então,
ouve de Edson Ribeiro: "É o japonês. Se for alguém é o japonês". Diogo
Ribeiro, chefe de gabinete de Delcídio, que também estava na conversa,
complementa. "É o japonês bonzinho".
Delcídio pergunta quem seria o "japonês bonzinho" e o advogado de
Cerveró diz: "É. Ele vende as informações para as revistas". Na
sequência, o senador petista diz que a figura em questão é "o cara da
carceragem, ele que controla a carceragem", informação confirmada pelo
filho de Cerveró.
Mais tarde, o grupo volta a falar dos vazamentos. Edson Ribeiro
levanta suspeitas sobre Sergio Riera, advogado de Fernando Baiano,
apontado como operador do PMDB no esquema da Lava Jato, Alberto
Yousseff, doleiro que assinou acordo de delação premiada e sobre o
"japonês", nas palavras de Bernardo Cerveró. A degravação feita pela PF
traz o nome "Milton", mas no áudio é possível ouvir que Edson Ribeiro
fala em "Nilton".
Em julho, o blog Expresso, da revista Época, destacou a presença do
agente da Polícia Federal Newton Ishii em diversas das prisões de
detidos da Lava Jato na superintendência da PF em Curitiba. Ishii é
chefe do Núcleo de Operações da PF em Curitiba e tem um passado
conturbado.
Funcionário da corporação desde 1976, Ishii foi expulso da PF em
2003, acusado de corrupção e de integrar uma quadrilha de
contrabandistas. Desde então, o agente já foi reintegrado, com
"confiança da direção da PF", segundo a publicação, mas ainda seguiria
respondendo processos criminais, civis e uma sindicância.
No pedido de prisão de André Esteves e Delcídio do Amaral, o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, manifesta preocupação com o
fato de o banqueiro ter tido acesso à delação de Cerveró. "Essa
informação revela a existência de perigoso canal de vazamento, cuja
amplitude não se conhece", diz o PGR. "Constitui genuíno mistério que um
documento que estava guardado em ambiente prisional em Curitiba/PR, com
incidência de sigilo, tenha chegado às mãos de um banqueiro privado em
São Paulo/SP".
De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, a Polícia Federal vai
investigar o vazamento da delação de Cerveró. Segundo a publicação, o
ex-diretor da Petrobras informou à cúpula da PF que só ele, seus
advogados, familiares e procuradores tiveram acesso. Ainda conforme o
jornal, Ishii disse a colegas que seu nome estava sendo usado como
"cortina de fumaça" para manchar a Operação Lava Jato.
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