Ramila Moura
Marcha das Mulheres Negras leva música e cor para Brasília
As mulheres negras encheram as ruas de Brasília-DF, nesta terça-feira (18), com cor, música e discursos contra a violência e o racismo. Até chegar em frente ao prédio do Congresso Nacional, a marcha, que saiu do Ginásio Nilson Nelson, percorreu o Eixo Monumental e a Esplanada dos Ministérios com faixas, cartazes e palavras de ordem “contra o racismo, contra a violência, pelo bem estar”. E receberam de parlamentares, ao longo da marcha, palavras de apoio.
Com um disparo de arma de fogo e vários rojões, um manifestante do
acampamento que pede o impeachment da presidenta Dilma e a volta do
regime militar tentou provocar tumulto na Marcha das Mulheres Negras. A
correria das mulheres, inclusive idosas, não foi o suficiente para
dispersar a marcha.
As palavras de apoio foram novamente ouvidas durante a sessão do
Congresso Nacional, que acontecia no mesmo momento em que houve o
tumulto provocando pelos manifestantes golpistas. Foi a senadora Vanessa
Grazziotin (PCdoB-AM), quem pediu ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL),
que presidia a sessão, que fosse feita uma revista no acampamento dos
manifestantes golpistas. Na semana passada, a polícia prendeu um
sargento reformado da polícia que participava do acampamento com uma
pistola e várias armas brancas.
Luciana Santos, presidenta do PCdoB e deputada federal por Pernambuco,
presenciou estarrecida a “cena de horror” e relatou: “Eu estava vindo
com a Marcha das Mulheres Negras em direção ao Congresso Nacional quando
um manifestante pró-impeachment atirou para cima no meio da marcha.
Foram 3 tiros! Uma manifestação de ódio e intolerância que nós não
podemos aceitar. O PCdoB vai reagir à altura e solicitar à mesa diretora
da Câmara e do Senado que não permita esse acampamento com pessoas
armadas, perto do Congresso Nacional. Isso vai de encontro a qualquer
tipo de manifestação plural e democrática”.
Luciana contou ainda que depois do susto inicial “e vendo que todas
estávamos bem, consegui registrar o momento da prisão. Um absurdo que o
rancor e a intolerância tentem tomar o lugar da coragem, da força, da
alegria e da combatividade que marcaram esta linda Marcha das Mulheres
Negras 2015”, desabafou.
Durante a Marcha das Mulheres Negras, em cima do carro de som, a líder
do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali, declarou: “Nós não podemos permitir
que as mulheres sejam assassinadas no aborto ilegal. Nós não podemos
permitir que os homens entendam as mulheres negras como algo que possa
ser descartado da vida com violência familiar”.
Movimento de luta
Com roupas e turbantes coloridos, com música e dança, cartazes e
discursos, cerca de 25 mil mulheres negras percorreram as ruas
anunciando que marchariam “até que todas as mulheres sejam livres”.
A presidenta da Unegro no Distrito Federal, Santa Alves, considerou a
marcha um grande sucesso pela força demonstrada pelas mulheres negras,
reforçando o desejo das mulheres negras de combater o racismo que as
oprime, para garantir a construção de uma sociedade de bem-estar. E
acrescentou que as mulheres negras não vão permitir que o Congresso
aprove matérias que aumente a opressão contra as mulheres.
Um grupo de mulheres do Quilombo Quingoma, de Lauro de Freitas, na
Bahia, aproveitaram a marcha para denunciar as ameaças à comunidade
remanescente de quilombolas com a construção da Via Metropolitana
Camaçari-Lauro de Freitas, que vai passar dentro da terra delas.
Vídeo com as mulheres cantando.
Agressão dos golpistas
A marcha alegre que chegou em frente ao prédio do Congresso Nacional,
parada tradicional das manifestações públicas, foi recebida com tiros
por um sargento da polícia que foi preso em seguida. Ele alegou que se
sentiu “ameaçado” pela presença das mulheres negras no espaço público.
Após os tiros, seguido de rojões, houve correria e dispersão. As
mulheres ocuparam o gramado onde estão acampados os golpistas, que as
ameaçaram e expulsaram do local. A polícia legislativa, que fez um cerco
na entrada do prédio do Congresso, a tudo assistiu sem nenhuma
interferência.
Do alto do carro de som, as organizadoras da marcha pediam as mulheres
que não aceitassem provocação, saíssem do gramado e seguissem a marcha,
que continuou pelo outro lado da Esplanada dos Ministérios, após a
prisão do golpista.
Movimento de luta
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