Empresária que já contribuiu financeiramente com
grupos que reivindicam o impeachment de Dilma Rousseff conta por que
mudou de opinião
A empresária Rosangela Lyra
Presidente da Associação dos Lojistas dos Jardins, a empresária Rosangela Lyra trocou de batalha.
Ex-militante pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff, ela agora quer que o País se torne livre de corrupção.
Em depoimento à Folha de S.Paulo,
ela afirmou que chegou a fazer parte de três movimentos que pede o
afastamento da presidente, o Vem Pra Rua, o Acorda Brasil e o Movimento
Brasil Livre, mas que, hoje, quer eu foco é coletar assinaturas para um
projeto de lei patrocinado pelo Ministério Público com foco no combate à
corrupção.
“Hoje, para mim, passar o Brasil a limpo é mais importante que tirar o PT na marra”, disse.
Confira abaixo a íntegra do seu depoimento:
No início do ano, pensava que seria possível uma renúncia da
presidente Dilma. Falava-se muito da possibilidade de ter havido fraude
na reeleição, a economia estava com uma perspectiva muito ruim, o
desemprego estava crescendo e havia erros de gestão. Queria que ela
saísse.
Na eleição, Eduardo Campos era a minha opção. Quando ele faleceu, eu
comecei a apoiar a Marina e colaborei um pouco com a campanha. Marina
foi desconstruída pelo marketing do PT. No momento em que ela apoiou o
Aécio, fiz o mesmo, porque eu não queria a Dilma.
Em agosto de 2014, comecei a fazer o Política Viva [encontros em que
convidados debatem o cenário nacional]. Me envolvi mais abertamente com
política.
Anteriormente, já havia ajudado a campanha de 2004 do ex-prefeito
José Serra (PSDB) e fiz um jantar para arrecadar fundos para a campanha
de 2010 do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Não tenho simpatia pelo
PT.
A convite dos fundadores do Vem Pra Rua, fiz parte do movimento deles
por dois meses. Algumas pessoas saíram e montaram o Acorda Brasil.
Minha passagem por lá foi mais no sentido de entender o que eles queriam
do que de efetivamente participar. Também arrecadei fundos para o MBL
(Movimento Brasil Livre) na marcha que eles fizeram para Brasília.
Pensei: “São jovens que querem mudar o Brasil”. Eu não tinha visto tanto radicalismo naquele momento.
É mais fácil você criar um rótulo e sair atacando. Como posts de
raiva geram mais “likes”, alguns movimentos põem um post de raiva e todo
mundo concorda, comenta com emoticons de palminha, beijinho,
bandeirinha.
mestre, o Ministério Público me convidou a encabeçar um
movimento junto aos lojistas, ao comércio aqui da região. Divulguei
muito as 10 Medidas [conjunto de propostas do Ministério Público contra a
corrupção]. Sacrifiquei horas de almoço, noite e fins de semana para
coletar assinaturas.
Das 75 mil assinaturas que o nosso grupo, chamado Força-Tarefa das 10
Medidas, coletou até o dia 9 de dezembro, só metade fomos nós que
colhemos. O resto foram os multiplicadores. Distribuímos mais de 5.000
kits com 64 fichas cada um. Por isso ganhei uma homenagem do Ministério
Público.
Meu ponto de virada foi quando eu percebi a
importância da Lava Jato e a não interferência da presidente. A gente se
acostumou a mudar os personagens da história, e não o enredo. Prefiro
mudar o enredo. Tem que pegar os corruptos, seja do PT, do PMDB, do
PSDB, do PP.
Esse meu posicionamento vai ao encontro do que pensam os
investigadores da Lava Jato. Na última coletiva, perguntaram se havia
interferência do governo na operação. Os investigadores disseram que não
havia. Poderiam ter se esquivado ou respondido com menos ênfase, mas
foram categóricos.
Se a Lava Jato tem hoje o peso que tem, foi porque Dilma sancionou a
lei que prevê a delação premiada e deixa a operação funcionar. Quem iria
para a rua quando começassem as canetadas, as pessoas sendo soltas?
A Itália, na Operação Mãos Limpas, também prendeu poderosos,
políticos e empresários. Mas, como não aproveitou aquele momento para
fazer as reformas, entrou o Silvio Berlusconi [ex-premiê].
Escuto a explicação “um de cada vez” para justificar a saída da Dilma
primeiro, mas não é assim no mundo real, você não tira dois presidentes
do poder no mesmo ano.
Esse próximo presidente, independente de quem fosse, teria todos os poderes para desconstruir a Lava Jato.
Hoje, para mim, passar o Brasil a limpo é mais importante que tirar o
PT do poder na marra. Eu não consigo ver as duas coisas –o impeachment e
a ascensão de um político com discurso de unificação e com interesses
políticos contrários à Lava Jato– possibilitando essa limpeza.
Eu chamo de evolução de posicionamento, não de mudança. As pessoas me
escrevem: “Para com essa posição de ir contra o impeachment, você está
queimando sua imagem”. Alguns me acusam de estar levando dinheiro do PT.
Eu digo que o tempo vai corrigir qualquer distorção que eles estejam
vendo.
Quando alguém diz que a Justiça e a Procuradoria só prendem gente do PMDB, e não do PT,
eu pergunto: “Vocês esqueceram que João Vaccari Neto, José Dirceu e
Delcídio do Amaral estão presos?”. Eles põem em dúvida a idoneidade da
Procuradoria-Geral da República.
Que Dilma continue deixando a Lava Jato adquirir cada vez mais corpo e
que ela enrole todos aqueles que fazem pressão para demitir o ministro
da Justiça, José Eduardo Cardozo, que notadamente não interfere.
Tenho a humildade de ter mudado de opinião, por que não é fácil mudar. E tenho muita confiança de que é pelo bem do país.
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