Depois de ensaiar um recuo e voltar a falar em montar um ministério
enxuto com "notáveis", o vice-presidente Michel Temer (PMDB) retornou à
composição da sua equipe de ministros semelhante à forma atual,
atendendo a indicações de partidos e com caráter fisiologista; à exceção
das siglas que hoje estão na oposição, o que se vê é uma configuração
semelhante à atual — inclusive com nomes iguais —, tanto em número
quanto em representatividade dos partidos que oferecem apoio em troca de
cargos; para conter a insatisfação do PMDB da Câmara, a sigla terá três
pastas; também devem retornar ao governo ex-ministros de Dilma como
Hélder Barbalho, do PMDB, e Gilberto Occhi, do PP
O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT), avalia que se
Eduardo Cunha (PMDB) decidir fazer delação premiada na Operação Lava
Jato, o eventual governo de Michel Temer terá vida curta; Cunha foi
afastado da presidência da Câmara pelo Supremo Tribunal Federal na
semana passada e também está impedido de exercer o mandato de deputado
federal
O vice-presidente Michel Temer não irá mais patrocinar o projeto de
autonomia do Banco Central, em seu eventual governo; apesar de ser de
autoria de Romero Jucá e de contar com a boa vontade de Renan Calheiros,
a medida divide aliados, entre eles o PSDB; o projeto antes era
prioritário em um contexto de desconfiança com a equipe econômica, mas
Henrique Meirelles na Fazenda acredita-se que poderá ser engavetado sem
problemas
O deputado federal e presidente do PPS, Roberto Freire, que é cotado
para um ministério no eventual governo Michel Temer, defende que, sendo a
presidente Dilma Rousseff afastada do cargo, o Senado não espere até
180 dias para marcar o julgamento definitivo da perda ou não do mandato
presidencial; "O Senado deve fazer isso quase de imediato. Se for
afastada, a presidente não tem que dar mais nenhum pitaco. Não tem que
fazer nada. Está afastada. Como é que alguém de bom senso pode imaginar
ter um presidente afastado, conspirando, enquanto o Senado demora para
marcar o julgamento? Mesmo com o poder diminuído, afastada, ela vai
ficar criando problemas", alega
O vice-presidente Michel Temer (PMDB) tem dito a interlocutores mais
próximos que os primeiros 60 dias do seu eventual governo serão os mais
importantes; ele quer enviar ao Congresso as principais mudanças que
pretende fazer na economia, e alterações nas áreas trabalhista e
previdenciária até o recesso parlamentar de julho
"Michel Temer ainda nem tomou posse e já enfrenta brigas entre os
aliados por espaços em seu virtual futuro governo", diz a colunista
Tereza Cruvinel, que cita várias disputas regionais pelos cargos
federais nos estados; "Além disso, Temer enfrenta o problema da sucessão
na presidência da Câmara. Para ganhar tempo e contornar a dor do parto,
ele agora mudou o discurso. Já não fala como presidente de fato e
definitivo mas lembra aos aliados que é interino e que o governo a ser
montado agora será provisório"
Quem levanta a questão é Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania; "A
chantagem foi amplamente usada por Cunha. E para variados fins. Além de
chantagear o PT com o impeachment de Dilma para que o partido não
votasse pela abertura de seu processo de cassação na Câmara, o agora
ex-presidente da Casa chantageou parlamentares de outros partidos", diz
ele; "O questionamento dos atos de Cunha no STF permite, portanto, que
aquela Corte anule todos os atos do ex-presidente da Câmara que possam
ter prevalecido ao custo de estratégias como chantagem, intimidação,
suborno e outros meios ilícitos de levar parlamentares a votarem como
ele queria"
A presidente Dilma Rousseff participou, neste sábado (7), da
inauguração da unidade de Pesca e Aquicultura da Embrapa em Palmas (TO);
no evento, ela afirmou que vai continuar lutando contra o pedido de
impeachment; "Querem o impeachment porque não gostam de onde eu faço
minhas escolhas para gastar o dinheiro, em prol do povo. Como eu não
tenho contas no exterior, não recebi dinheiro de propina, nem de
corrupção. Aliás, falam que eu sou uma pessoa dura. Não sou uma pessoa
dura. Sou uma pessoa honesta. É diferente", disse; "Eu não pratiquei
crime", ressaltou; segundo ela, o impeachment "é uma tentativa de fazer
uma eleição indireta para colocar no governo uma pessoa que não tem voto
suficiente para lá chegar"; "Se querem fazer um julgamento político do
meu governo recorram ao povo brasileiro e não ao impeachment", afirmou;
"Eu irei resistir", completou
Às vésperas da votação no Senado, vazam trechos de uma delação de
Marcelo Odebrecht, preso há quase um ano, em que ele acusa o ex-ministro
Guido Mantega e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, de vincular
empréstimos do BNDES a doações de campanha; ele também disse que a
presidente Dilma Rousseff teria atuado para livrar da prisão os
empreiteiros envolvidos no esquema investigado pela Operação Lava Jato
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