A emissora paulista alegou questões financeiras, abriu
mão de sublicenciar a exibição dos jogos a partir desta temporada e
colocou a cúpula do canal carioca em busca de um novo
parceiro/concorrente. Mas afinal, por que a Globo precisa dividir com
outro canal o conteúdo que poderia ter com exclusividade na televisão
aberta?
A primeira questão é contratual. Concorrências por
direitos de mídia de competições são definidas por uma série de questões
que considera aspectos como valores e espaço na grade. Para fechar com
entidades como Fifa e Uefa, por exemplo, a Globo precisou se comprometer
a exibir em rede aberta uma determinada quantidade de eventos.Portanto,
ela precisa de um parceiro para desovar conteúdos que não gostaria de
encaixar em sua grade.
Sem a Band, teria de optar entre encontrar
um novo destino para esses eventos ou exibir jogos que dão menos retorno
do que outros produtos não-esportivos – partidas de futebol de base,
futebol feminino e fases preliminares de torneios como a Liga dos
Campeões da Uefa, por exemplo.
Outro aspecto é a promoção. Segundo
o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica, órgão que regula
mercados e combate monopólio em âmbito nacional), a Globo não é obrigada
a repassar os direitos do Campeonato Brasileiro. Contudo, parceiros de
transmissão aumentam o espaço do torneio na TV aberta – não apenas com
exibição de jogos, mas com jornalismo, análise e similares. Isso fomenta
o consumo daquele conteúdo, e um número maior de pessoas vendo futebol
tende a ampliar também a audiência da emissora líder.
O contrato
da Globo com os clubes que disputam o Campeonato Brasileiro vai até a
temporada 2018. Horas depois de o desfecho da parceria com a Band ter
sido anunciado, RedeTV! e TV Brasil procuraram a emissora carioca para
fazer uma consulta sobre o futuro.
No caso da RedeTV!, a Globo
entende que o canal não tem hoje a estrutura adequada para exibir o
Campeonato Brasileiro. Um avanço na negociação dependeria
fundamentalmente do potencial de investimento do canal paulista,
portanto. A TV Brasil já exibe a Série C do certame nacional e vinha se
preparando para aumentar o aporte no futebol, mas hoje vive cenário de
incerteza por causa da conjuntura política – o canal é público e se
mantém com verba do governo federal.
A
Bandeirantes paga atualmente uma cota de U$ 50 milhões para a Globo
(cerca de R$ 175 milhões). Para bancar isso, precisa amealhar ao menos
R$ 250 milhões entre anunciantes – o valor não considera sequer os
custos de produção e operação. A emissora paulista vive um momento
financeiro conturbado, e a decisão de cortar a parceria tem a ver com
isso.
A busca da Globo por um novo parceiro também dependerá
fundamentalmente do mercado publicitário. O atual período do ano já é
naturalmente uma fase em que canais tateiam o ambiente em busca de
anunciantes, e o surgimento de um novo interessado pelo futebol
dependerá das reações de quem pode pagar a conta.
Nesse aspecto,
aliás, pesa outro ponto sobre a decisão da Band. O canal anunciou o fim
das transmissões do futebol, mas ainda não oficializou o quanto o
esporte vai perder espaço em sua grade. Se mantiver os programas
voltados ao tema, portanto, pode continuar brigando por anunciantes
interessados no segmento.
O anúncio do término da parceria com a
Globo instaurou clima de tensão entre funcionários da Bandeirantes.
Existe expectativa de corte para os próximos meses – depois da Eurocopa
deste ano, provavelmente. A emissora já havia perdido a Série B do
Campeonato Brasileiro para a RedeTV! e já havia deixado de exibir em
2016 a Copa do Brasil.
Custos
O custo de
operação da Globo para transmitir futebol não é divulgado oficialmente,
mas a emissora diz que desembolsa R$ 1,5 bilhão anual apenas com o
Campeonato Brasileiro. São seis anunciantes (Ambev, Banco Itaú, BRF,
Casas Bahia, Johnson & Johnson e Vivo), e cada um deles desembolsou
R$ 245,7 milhões pelo pacote futebol em 2016. O valor inclui todos os
eventos da modalidade que o canal exibe.
Procurada pela reportagem do UOL Esporte, a Globo respondeu: “Tudo que temos a dizer está no comunicado”, em referência à nota de terça-feira.
* Eduardo Ohata, Guilherme Costa, Luis Augusto Simon, Pedro Ivo Almeida, Ricardo Perrone, Rodrigo Mattos e Rogério Jovanelli Do UOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo
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