quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Café com Claudinha


Claudinha estava com 14 anos e 09  meses quando a mãe dela decidiu separar-se   de mim, depois de uma convivência amigável que durou dezessete anos e o nascimento de dois filhos.


 A  Claudinha e o seu irmão caçula, o Diógenes,  perceberam a grande tristeza que me abatia  e num gesto de solidariedade e de amor optaram por permanecer morando comigo no conjunto habitacional  de Maranguape II, na cidade de Paulista, litoral norte de Pernambuco e não acompanharam  a mãe deles.


De vez em quando durante o café da manhã eu e a Claudinha permanecíamos por longas horas conversando sobre a minha trajetória de vida e  alguns fatos e acontecimentos da história do Brasil a partir do golpe militar de 1964 e a minha militância junto ao movimento popular de resistência ao arbítrio.


Claudinha ouvia atenta à minha narrativa e vez por outra manifestava a sua curiosidade sobre alguns acontecimentos para que ela pudesse entender melhor.


Para mim era bastante prazeroso fazer essa  viagem ao “Túnel do tempo” para recordar alguns bons momentos vividos, como também  alguns dissabores da minha vida,  e contá-las aos meus filhos, para extrair conhecimentos e algumas lições de vida...


 Algumas cenas e imagens tornam-se repetitivas como um flash-back   cinematográfico na nossa mente e nos faz retornar ao  passado como se estivéssemos revivendo-os no presente, comprovando ser verdadeira a afirmação de que a primeira imagem é a que fica.


Uma das  cenas  repetidas milhares de vezes  na minha mente, reprisa  à minha expressão de alegria, quando aos cinco anos de idade ganhei de presente do meu pai a minha primeira “Cartilha do ABC”.  


Outras lembranças me transportam ao passado da minha infância querida e me conduzem as brincadeiras de crianças daquela época, o jogo da amarelinha, as brincadeiras  de “pega” e de “cabra cega”  de “passar a aliança” e os meus brinquedos preferidos de “bola de grude” e futebol de tampinhas de garrafas,  os bois de barro, confeccionados pelas mãos do Mestre Vitalino, de Caruaru  e, os meus cavalinhos de pedaços de cana de açúcar caiana, as pipas,  e os carrinhos de lata de óleo de caroços de algodão...


 Outra imagem forte que povoa a minha mente e que me acompanhou durante toda a minha vida  causando-me sofrimento e dor, foi quando  aos doze anos de idade perdi a minha querida mãezinha.  


Depois que cresci e me tornei adulto  a lembrança mais forte foi  quando pisei pela primeira vez o solo da cidade do Rio de janeiro   e testemunhei quando uma jovem carioca, muito bela e formosa, em trajes de banho de mar, fez o trânsito parar para ela atravessar   uma das principais Avenidas no bairro de  Copacabana, como se ela fosse a “Garota de Ipanema” da famosa canção do Vinicius  de Moraes e do Tom Jobim, embora o espírito do carioca ainda revivesse o glamour do movimento “Bossa nova”, já havia surgido no festival de 1967, o novo estilo da Musica popular Brasileira.


 Outra imagem que se repete constantemente na minha lembrança foi quando no dia 28 de maio de 1968 embarquei  na Estação da Luz, na capital do estado de São Paulo   rumo à cidade de Santo André, no A B C  Paulista, onde  pernoitei e quase morri de frio  sob uma temperatura de 5  graus...


.O diálogo quase diário  com a Claudinha  durante o nosso café da manhã nos aproximava mais e assim eu orientava os meus filhos para que eles estabelecessem metas e planos para a vida deles sempre focados no objetivo de freqüentarem à Escola para o estudo e o aprendizado.


Eu contei desde a minha infância pobre,  no alto José do Pinho e uma fase da minha juventude morando no Vasco da Gama, no bairro de Casa Amarela, na periferia  do Recife,  até a  minha migração para a capital do Estado de São  Paulo, onde estudei, aprendi uma profissão e trabalhei em Industrias no ramo  de metalurgia e morei por quase vinte anos dedicados à militância política combatendo o arbítrio e lutando pelo restabelecimento das liberdades democráticas no nosso País.


E, assim durante quase dois anos eu contei a Claudinha alguns fatos  da  minha vida e fiz um resumo histórico  dos principais acontecimentos de um pequeno período da História do Brasil, em ordem cronológica,  a partir de uma visão panorâmica e superficial  sobre a nossa realidade, baseada apenas nas informações que  fui capaz de obtê-las  por meio da minha militância e pelas  experiências vividas.


Escrito por Cláudio Lima.


·        Café com Claudinha – Recordações de um militante das lutas populares.

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