Café com Claudinha

Claudinha estava com 14 anos e 09 meses quando a mãe dela decidiu separar-se de
mim, depois de uma convivência amigável que durou dezessete anos e o nascimento
de dois filhos.
A Claudinha e o seu irmão caçula, o Diógenes, perceberam a grande tristeza que me
abatia e num gesto de solidariedade e de
amor optaram por permanecer morando comigo no conjunto habitacional de Maranguape II, na cidade de Paulista,
litoral norte de Pernambuco e não acompanharam
a mãe deles.
De vez em quando durante o café da manhã eu e a Claudinha
permanecíamos por longas horas conversando sobre a minha trajetória de vida e alguns fatos e acontecimentos da história do
Brasil a partir do golpe militar de 1964 e a minha militância junto ao movimento
popular de resistência ao arbítrio.
Claudinha ouvia atenta à minha narrativa e vez por outra
manifestava a sua curiosidade sobre alguns acontecimentos para que ela pudesse
entender melhor.
Para mim era bastante prazeroso fazer essa viagem ao “Túnel do tempo” para recordar
alguns bons momentos vividos, como também
alguns dissabores da minha vida,
e contá-las aos meus filhos, para extrair conhecimentos e algumas lições
de vida...
Algumas cenas e
imagens tornam-se repetitivas como um flash-back cinematográfico na nossa mente e nos faz
retornar ao passado como se estivéssemos
revivendo-os no presente, comprovando ser verdadeira a afirmação de que a
primeira imagem é a que fica.
Uma das cenas repetidas milhares de vezes na minha mente, reprisa à minha expressão de alegria, quando aos cinco
anos de idade ganhei de presente do meu pai a minha primeira “Cartilha do ABC”.
Outras lembranças me transportam ao passado da minha infância
querida e me conduzem as brincadeiras de crianças daquela época, o jogo da
amarelinha, as brincadeiras de “pega” e
de “cabra cega” de “passar a aliança” e
os meus brinquedos preferidos de “bola de grude” e futebol de tampinhas de
garrafas, os bois de barro,
confeccionados pelas mãos do Mestre Vitalino, de Caruaru e, os meus cavalinhos de pedaços de cana de
açúcar caiana, as pipas, e os carrinhos
de lata de óleo de caroços de algodão...
Outra imagem forte que
povoa a minha mente e que me acompanhou durante toda a minha vida causando-me sofrimento e dor, foi quando aos doze anos de idade perdi a minha querida
mãezinha.
Depois que cresci e me tornei adulto a lembrança mais forte foi quando pisei pela primeira vez o solo da
cidade do Rio de janeiro e testemunhei
quando uma jovem carioca, muito bela e formosa, em trajes de banho de mar, fez o
trânsito parar para ela atravessar uma das
principais Avenidas no bairro de Copacabana,
como se ela fosse a “Garota de Ipanema” da famosa canção do Vinicius de Moraes e do Tom Jobim, embora o espírito
do carioca ainda revivesse o glamour do movimento “Bossa nova”, já havia
surgido no festival de 1967, o novo estilo da Musica popular Brasileira.
Outra imagem que se
repete constantemente na minha lembrança foi quando no dia 28 de maio de 1968 embarquei na Estação da Luz, na capital do estado de
São Paulo rumo à cidade de Santo André,
no A B C Paulista, onde pernoitei e quase morri de frio sob uma temperatura de 5 graus...
.O diálogo quase diário
com a Claudinha durante o nosso
café da manhã nos aproximava mais e assim eu orientava os meus filhos para que
eles estabelecessem metas e planos para a vida deles sempre focados no objetivo
de freqüentarem à Escola para o estudo e o aprendizado.
Eu contei desde a minha infância pobre, no alto José do Pinho e uma fase da minha
juventude morando no Vasco da Gama, no bairro de Casa Amarela, na
periferia do Recife, até a
minha migração para a capital do Estado de São Paulo, onde estudei, aprendi uma profissão e
trabalhei em Industrias no ramo de metalurgia
e morei por quase vinte anos dedicados à militância política combatendo o
arbítrio e lutando pelo restabelecimento das liberdades democráticas no nosso
País.
E, assim durante quase dois anos eu contei a Claudinha alguns
fatos da
minha vida e fiz um resumo histórico
dos principais acontecimentos de um pequeno período da História do
Brasil, em ordem cronológica, a partir
de uma visão panorâmica e superficial
sobre a nossa realidade, baseada apenas nas informações que fui capaz de obtê-las por meio da minha militância e pelas experiências vividas.
Escrito por Cláudio Lima.
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Café
com Claudinha – Recordações de um militante das lutas populares.
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