segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Heliópolis, 1984: A Morte do Guri e o susto do Governador

Foto:arquivo Google  -  Heliópolis

Numa manhã ensolarada de verão nordestino com um azul anil e pequenas nuvens brancas com se fossem mechas de algodão e alguns pássaros sobrevoando à abobada celeste  e a natureza em festa,  expondo toda a  beleza e o esplendor,  durante o   café da  manhã, regado ao “manjar dos Deuses”, uma receita improvisada  por mim, um tipo de angu à Cláudio Lima, contendo como ingredientes  o fubá de milho, creme de leite, leite de coco, farinha de aveia, margarina, maçã ralada, mel de abelha, banana prata amassada e castanhas de caju, eu contei a Claudinha um  fato ocorrido na favela Heliópolis, por volta do ano de 1984, onde a morte de um guri e a revolta da população serviu como estímulo para a conquista de um grande bem para a comunidade local, durante a minha gestão na presidência da Associação Central dos Moradores do Heliópolis.



                                Foto:  arquivo Google  -  Heliópolis  

Nada acontece por acaso e nem sempre as coisas  acontecem da maneira como planejamos, por isso precisamos está sempre atentos e preparados  para os imprevistos da vida e dispostos a agir em função deles porque as oportunidades surgidas e não aproveitadas  geralmente não se repetem.


 Refletindo sobre esse  fato ocorrido na favela Heliópolis, quando a morte de um  guri, de dez anos de idade, revoltou a população local, pregou um grande susto no Governador do Estado de São Paulo  e serviu  como estimulo  para que a população conquistasse num prazo curto, uma das  mais importantes reivindicações que estava  travada há vários meses pela  má vontade das  autoridades do Estado de São Paulo, e que significou uma grande melhoria  na qualidade de vida e no bem estar dos moradores da favela.


Devido á falta de investimentos em  educação, na qualificação profissional, o  alto índice de  desempregos, baixos salários  e  á falta de interesse das classes dominantes, no sistema capitalista, em investir na construção de moradias populares, para zerar o déficit habitacional, milhões de famílias são obrigadas  a morar em condições degradantes e sub-humanas nas favelas, palafitas e “cortiços” nas grandes cidades do País


.Somente quem habita ou que já passou pela necessidade de morar  numa favela é que sabe das dificuldades que as  famílias enfrentam com o desconforto, a promiscuidade e à sensação de está permanentemente desprotegido da violência.


..Os  maiores problemas enfrentados pelos moradores da favela  Heliópolis naquele período    era  a falta da rede  de abastecimento  d’água, o saneamento básico e a energia elétrica, causando sérios problemas á saúde da população  que se abastecia precariamente do precioso líquido, através de poços artesianos,   e “barreiros”de águas barrentas,  sem tratamento e nenhum controle de qualidade,  e a energia elétrica, por meio de “gambiarras”, onde cada residência dispunha apenas de um “bico” de luz, não podendo instalar  tomadas para usar geladeiras, nem televisores, e nem chuveiros elétricos.


Diante a grande revolta  e  o clamor  da população pela morte de um Guri de apenas dez anos de idade que teria  se afogado num “barreiro” quando tentava captar água para os afazeres domésticos em sua residência, fui ao Gabinete  do Vereador,   Almir Guimarães,  para procurar ajuda, quando  fui informado  de que o mesmo estava viajando, mas, que no dia seguinte estaria participando da inauguração de uma praça junto com o Governador do Estado, Franco Montoro, no jardim da saúde, próximo ao bairro do Ipiranga.


Ao retornar à favela Heliópolis convoquei todos os membros da Diretoria da entidade para uma reunião de emergência e mobilizamos  a população revoltosa para uma grande passeata de protestos na praça onde o Governador Franco Montoro  estava presente e apresentamos as nossas reivindicações através de ofícios.


Dois meses depois... o jornal “a Gazeta do Ipiranga” no dia 27 de setembro, de 1984, noticiava  a realização de  um mega show com  artistas da MPB,  para  comemorar  a festa da primavera  e  a instalação das redes de abastecimento d’água  e de energia elétrica, que beneficiou centenas de famílias do núcleo do Pam  da  favela Heliópolis.


 Escrito por Cláudio Lima.


 Café com Claudinha  - Reflexões de 40 anos de militância.      

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