Foto:arquivo Google - Heliópolis
Numa manhã ensolarada de verão nordestino com um azul anil e
pequenas nuvens brancas com se fossem mechas de algodão e alguns pássaros sobrevoando
à abobada celeste e a natureza em festa, expondo toda a beleza e o esplendor, durante o café
da manhã, regado ao “manjar dos Deuses”,
uma receita improvisada por mim, um tipo
de angu à Cláudio Lima, contendo como ingredientes o fubá de milho, creme de leite, leite de
coco, farinha de aveia, margarina, maçã ralada, mel de abelha, banana prata
amassada e castanhas de caju, eu contei a Claudinha um fato ocorrido na favela Heliópolis, por volta
do ano de 1984, onde a morte de um guri e a revolta da população serviu como
estímulo para a conquista de um grande bem para a comunidade local, durante a
minha gestão na presidência da Associação Central dos Moradores do Heliópolis.
Foto: arquivo Google - Heliópolis
Nada acontece por acaso e nem sempre as coisas acontecem da maneira como planejamos, por
isso precisamos está sempre atentos e preparados para os imprevistos da vida e dispostos a
agir em função deles porque as oportunidades surgidas e não aproveitadas geralmente não se repetem.
Refletindo sobre esse fato ocorrido na favela Heliópolis, quando a
morte de um guri, de dez anos de idade, revoltou
a população local, pregou um grande susto no Governador do Estado de São
Paulo e serviu como estimulo para que a população conquistasse num prazo
curto, uma das mais importantes
reivindicações que estava travada há
vários meses pela má vontade das autoridades do Estado de São Paulo, e que
significou uma grande melhoria na
qualidade de vida e no bem estar dos moradores da favela.
Devido á falta de investimentos em educação, na qualificação profissional, o alto índice de desempregos, baixos salários e á
falta de interesse das classes dominantes, no sistema capitalista, em investir na
construção de moradias populares, para zerar o déficit habitacional, milhões de
famílias são obrigadas a morar em
condições degradantes e sub-humanas nas favelas, palafitas e “cortiços” nas grandes
cidades do País
.Somente quem habita ou que já passou pela necessidade de
morar numa favela é que sabe das
dificuldades que as famílias enfrentam
com o desconforto, a promiscuidade e à sensação de está permanentemente desprotegido
da violência.
..Os maiores problemas
enfrentados pelos moradores da favela
Heliópolis naquele período era a falta da rede de abastecimento d’água, o saneamento básico e a energia
elétrica, causando sérios problemas á saúde da população que se abastecia precariamente do precioso
líquido, através de poços artesianos, e
“barreiros”de águas barrentas, sem
tratamento e nenhum controle de qualidade,
e a energia elétrica, por meio de “gambiarras”, onde cada residência
dispunha apenas de um “bico” de luz, não podendo instalar tomadas para usar geladeiras, nem televisores,
e nem chuveiros elétricos.
Diante a grande revolta
e o clamor da população pela morte de um Guri de apenas
dez anos de idade que teria se afogado
num “barreiro” quando tentava captar água para os afazeres domésticos em sua
residência, fui ao Gabinete do Vereador, Almir Guimarães, para procurar ajuda, quando fui informado
de que o mesmo estava viajando, mas, que no dia seguinte estaria
participando da inauguração de uma praça junto com o Governador do Estado, Franco
Montoro, no jardim da saúde, próximo ao bairro do Ipiranga.
Ao retornar à favela Heliópolis convoquei todos os membros da
Diretoria da entidade para uma reunião de emergência e mobilizamos a população revoltosa para uma grande
passeata de protestos na praça onde o Governador Franco Montoro estava presente e apresentamos as nossas
reivindicações através de ofícios.
Dois meses depois... o jornal “a Gazeta do Ipiranga” no dia
27 de setembro, de 1984, noticiava a
realização de um mega show com artistas da MPB, para
comemorar a festa da primavera e a
instalação das redes de abastecimento d’água
e de energia elétrica, que beneficiou centenas de famílias do núcleo do
Pam da
favela Heliópolis.
Escrito por Cláudio Lima.
Café com Claudinha -
Reflexões de 40 anos de militância.
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