terça-feira, 8 de novembro de 2016

Congresso termina em empurrões, tapas e voadoras...

                                                         Foto:  Ivan  da  Silva  Pereira

Numa sexta-feira, 13 de dezembro, de 1991, às 19 horas, no auditório do Sindicato dos tecelões de Paulista, no centro   da  cidade, centenas de lideranças comunitárias e convidados especiais participaram da cerimônia  de abertura  do 1º  Congresso  de Entidades populares da cidade do Paulista, 1º  CONEP, sob a coordenação de  Cláudio Lima, diretor de eventos da entidade.


Aguardado com grande expectativa  e muita empolgação pelos líderes comunitários da cidade, o 1º Conep, iniciou-se num clima festivo,  cordial e emocionante quando os participantes, de pé, prestaram uma homenagem pela passagem do aniversário de uma grande baluarte do movimento  comunitário  local,  a senhora Norma Lusia Cavalcanti, secretária da FEPEC.


Durante três dias, num final de semana  de muita movimentação  e de preparativos para as festividades do Natal  e  do Réveillon , as lideranças comunitárias da cidade  puderam discutir diversas propostas para a organização  e o fortalecimento das entidades e das lutas comunitárias, em prol das reivindicações mais solicitadas pelas comunidades.


 O 1º Conep, transcorreu num clima de muita fraternidade até o inicio do processo de inscrições de chapas  concorrentes ao pleito,  para a renovação da Diretoria  Executiva  e  do Conselho Fiscal da Federação, quando o clima se transformou num campo de batalhas, e o evento terminou em pancadaria, tapas,  empurrões, voadoras, socos  e ponta pés.


Nas décadas  de  80 e 90 o movimento comunitário a nível nacional teve os seus anos de destaques nas mobilizações e nas lutas populares, com as Federações, e Uniões Municipais e Estaduais. sob a coordenação da Confederação Nacional das  Associações de Moradores (Conam), dirigida por uma ampla composição de forças políticas. com a participação dos melhores quadros de militantes do movimento comunitário,  sob o hegemonia do  PC do B.


No Estado de Pernambuco, a Federação Metropolitana de Bairros (FEMEB), destacava-se,  das outras Federações Estaduais,  (FEMOCOHAB  E  FECOPE),  por aglutinar em suas hostes a nata da militância comunitária mais combativa  da região metropolitana  do Recife, sendo reconhecida  e respeitada pelas autoridades do Estado,  e pelas entidades afiliadas, pelo potencial de organização e mobilização  nas lutas populares.


A  Federação  Paulistense de Entidades Comunitárias (FEPEC), desde a sua fundação,  sempre foi dirigida pelos lideres comunitários detentores de cargos comissionados, fiéis escudeiros das forças políticas que administrava o Município, e por isso, a entidade não se destacava nas reivindicações das comunidades, sendo reconhecida como uma entidade de pelegos,  `que servia de instrumento  de sustentação política e  eleitoral para  as forças políticas que comandavam o município.


Convidado pelo presidente da FEPEC, o comunitário Ivan da Silva  Pereira, para assumir a Diretoria  de Eventos da entidade, e coordenar a organização  do 1º  Conep,  iniciei um processo de mobilização das entidades comandadas pelas lideranças de oposição as forças políticas  que comandavam o município, sob a batuta do Prefeito Ademir  Cunha, provocando   uma mudança  de paradigmas na correlação de forças, ao alcançarmos a hegemonia nas reuniões da entidade aprovando  a maioria das nossas propostas.


Faltando uma semana  para o 1º  Conep, o Prefeito Ademir Cunha afirmou a comissão de finanças que não poderia ajudar financeiramente para a realização  do evento, quando na ocasião,  pedi a palavra, e lembrei ao Prefeito, que dois meses antes havia realizado na cidade o 3º Seminário de Transportes da Região Metropolitana /norte,   com o apoio  de todas  as Prefeituras da região, menos   a de Paulista, e ao expor, sob  a  mesa do Prefeito, o Projeto  do 1º Conep, elaborado pelo amigo e camarada do PC do B, Guido Bianchi, da  ítalo Bianchi, a maior agencia de publicidade de Pernambuco, naquela ocasião, o Prefeito, num gesto de admiração indagou-me: “Pôxa, Cláudio, como você conseguiu este projeto pela ítalo Bianchi, se eu não consigo, pela Prefeitura?”


No dia seguinte, na companhia do Osvaldinho, presidente da Associação de Moradores de Arthur Lundgren I, fomos a Agencia do Banco do Brasil, na Avenida Rio Branco, para sacar um checão de 500 mil Cruzados novos, doados pelo empreiteiro Macarrão, dono da F. A.Teixeira, a pedido do Prefeito Ademir Cunha, para as despesas do congresso no valor de 200 mil Cruzados novos sendo o restante, 300 mil cruzados novos,  repassados para a diretoria da Fepec.


Antes do inicio do  ultimo dia do Congresso, recebí um recado enviado pelo Ex-Prefeito Dr. Geraldo Pinho Alves, me pedindo para tomar cuidado, pois o Deputado Estadual,  e candidato a Prefeito,  nas eleições de 1992, José Resende, teria se  reunido com algumas lideranças comunitárias. no Pagode da Conceição, em Maranguape I, onde decidiram acabar o congresso em baixarias, para evitar a eleição da chapa encabeçada pela minha pessoa,  e composta por militantes  dos partidos de esquerda.


Ao dar início ao processo eleitoral, tive o microfone arrebatado das minhas  mãos pelo presidente da Fepec e ao tentar retomá-lo, fui agredido pela líder comunitária Janete, de Maranguape I, tentando cravar suas unhas nos meus olhos, quando girei meu corpo rapidamente, para evitar a agressão, tropecei numa cadeira e caí ao chão, neste momento alguns companheiros de chapa subiram ao palanque e jogaram para baixo as mesas, o equipamento de som e todas as pessoas, transformando o congresso num campo de batalhas, com cadeiradas, tapas, voadoras, socos e ponta pés.


A  Chapa de esquerda, PC do B, PSB e PT, encabeçada por mim,  reagiu às agressões físicas,na mesma proporção em que éramos provocados havendo alguns excessos por conta de rivalidades existentes anteriormente.


Após a dispersão da maioria dos participantes, alguns membros da Diretoria da Fepec acionaram uma  viatura policial e apresentaram a comunitária Janete, que chorava muito, com  a cabeça e o rosto encobertos por uma toalha,  dizendo que teria sido agredida por mim e no momento em que os policiais me deram voz de prisão, o companheiro da nossa chapa, o Sergio Capoeira, num lance rápido, puxando a toalha, descobriu o rosto da Janete todo maquiado  e sem nenhuma marca de agressão...


 Escrito por Cláudio Lima.


 Café com Claudinha – Reflexões sobre 40 anos de militância.

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