Foto: Ivan da Silva Pereira
Numa sexta-feira, 13 de dezembro, de 1991, às 19 horas, no
auditório do Sindicato dos tecelões de Paulista, no centro da
cidade, centenas de lideranças comunitárias e convidados especiais participaram
da cerimônia de abertura do 1º
Congresso de Entidades populares
da cidade do Paulista, 1º CONEP, sob a
coordenação de Cláudio Lima, diretor de
eventos da entidade.
Aguardado com grande expectativa e muita empolgação pelos líderes comunitários
da cidade, o 1º Conep, iniciou-se num clima festivo, cordial e emocionante quando os participantes,
de pé, prestaram uma homenagem pela passagem do aniversário de uma grande
baluarte do movimento comunitário local,
a senhora Norma Lusia Cavalcanti, secretária da FEPEC.
Durante três dias, num final de semana de muita movimentação e de preparativos para as festividades do
Natal e
do Réveillon , as lideranças comunitárias da cidade puderam discutir diversas propostas para a
organização e o fortalecimento das
entidades e das lutas comunitárias, em prol das reivindicações mais solicitadas
pelas comunidades.
O 1º Conep,
transcorreu num clima de muita fraternidade até o inicio do processo de
inscrições de chapas concorrentes ao
pleito, para a renovação da Diretoria
Executiva e do Conselho Fiscal da Federação, quando o
clima se transformou num campo de batalhas, e o evento terminou em pancadaria,
tapas, empurrões, voadoras, socos e ponta pés.
Nas décadas de 80 e 90 o movimento comunitário a nível
nacional teve os seus anos de destaques nas mobilizações e nas lutas populares, com as Federações, e Uniões Municipais e Estaduais. sob a coordenação da
Confederação Nacional das Associações de
Moradores (Conam), dirigida por uma ampla composição de forças políticas. com a
participação dos melhores quadros de militantes do movimento comunitário, sob o
hegemonia do PC do B.
No Estado de Pernambuco, a Federação Metropolitana de Bairros
(FEMEB), destacava-se, das outras
Federações Estaduais, (FEMOCOHAB E FECOPE), por aglutinar em suas hostes a nata
da militância comunitária mais combativa
da região metropolitana do Recife,
sendo reconhecida e respeitada pelas
autoridades do Estado, e pelas entidades afiliadas, pelo potencial de organização
e mobilização nas lutas populares.
A Federação Paulistense de Entidades Comunitárias (FEPEC), desde a sua fundação, sempre foi dirigida pelos lideres comunitários detentores
de cargos comissionados, fiéis escudeiros das forças políticas que administrava
o Município, e por isso, a entidade não se destacava nas reivindicações das
comunidades, sendo reconhecida como uma entidade de pelegos, `que servia de instrumento de sustentação política e eleitoral para as forças políticas que comandavam o
município.
Convidado pelo presidente da FEPEC, o comunitário Ivan da
Silva Pereira, para assumir a Diretoria de Eventos da entidade, e coordenar a
organização do 1º Conep, iniciei um processo de mobilização das
entidades comandadas pelas lideranças de oposição as forças políticas que comandavam o município, sob a batuta do
Prefeito Ademir Cunha, provocando uma mudança
de paradigmas na correlação de forças, ao alcançarmos a hegemonia nas
reuniões da entidade aprovando a maioria
das nossas propostas.
Faltando uma semana
para o 1º Conep, o Prefeito
Ademir Cunha afirmou a comissão de finanças que não poderia ajudar
financeiramente para a realização do
evento, quando na ocasião, pedi a palavra, e lembrei ao Prefeito, que dois meses antes havia realizado na cidade o 3º
Seminário de Transportes da Região Metropolitana /norte, com o apoio
de todas as Prefeituras da
região, menos a de Paulista, e ao expor,
sob a mesa do Prefeito, o Projeto do 1º Conep, elaborado pelo amigo e camarada
do PC do B, Guido Bianchi, da ítalo
Bianchi, a maior agencia de publicidade de Pernambuco, naquela ocasião, o
Prefeito, num gesto de admiração indagou-me: “Pôxa, Cláudio, como você
conseguiu este projeto pela ítalo Bianchi, se eu não consigo, pela Prefeitura?”
No dia seguinte, na companhia do Osvaldinho, presidente da
Associação de Moradores de Arthur Lundgren I, fomos a Agencia do Banco do
Brasil, na Avenida Rio Branco, para sacar um checão de 500 mil Cruzados novos,
doados pelo empreiteiro Macarrão, dono da F. A.Teixeira, a pedido do Prefeito
Ademir Cunha, para as despesas do congresso no valor de 200 mil Cruzados novos
sendo o restante, 300 mil cruzados novos, repassados para a diretoria da Fepec.
Antes do inicio do
ultimo dia do Congresso, recebí um recado enviado pelo Ex-Prefeito Dr.
Geraldo Pinho Alves, me pedindo para tomar cuidado, pois o Deputado
Estadual, e candidato a Prefeito, nas eleições de 1992, José Resende, teria
se reunido com algumas lideranças
comunitárias. no Pagode da Conceição, em Maranguape I, onde decidiram acabar o
congresso em baixarias, para evitar a eleição da chapa encabeçada pela minha
pessoa, e composta por militantes dos partidos de esquerda.
Ao dar início ao processo eleitoral, tive o microfone
arrebatado das minhas mãos pelo
presidente da Fepec e ao tentar retomá-lo, fui agredido pela líder comunitária
Janete, de Maranguape I, tentando cravar suas unhas nos meus olhos, quando
girei meu corpo rapidamente, para evitar a agressão, tropecei numa cadeira e caí
ao chão, neste momento alguns companheiros de chapa subiram ao palanque e
jogaram para baixo as mesas, o equipamento de som e todas as pessoas,
transformando o congresso num campo de batalhas, com cadeiradas, tapas, voadoras,
socos e ponta pés.
A Chapa de esquerda,
PC do B, PSB e PT, encabeçada por mim, reagiu
às agressões físicas,na mesma proporção em que éramos provocados havendo alguns
excessos por conta de rivalidades existentes anteriormente.
Após a dispersão da maioria dos participantes, alguns membros
da Diretoria da Fepec acionaram uma
viatura policial e apresentaram a comunitária Janete, que chorava muito, com a cabeça e o rosto encobertos por
uma toalha, dizendo que teria sido
agredida por mim e no momento em que os policiais me deram voz de prisão, o
companheiro da nossa chapa, o Sergio Capoeira, num lance rápido, puxando a
toalha, descobriu o rosto da Janete todo maquiado e sem nenhuma marca de agressão...
Escrito por Cláudio Lima.
Café com Claudinha – Reflexões sobre 40 anos de militância.
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