Para
quem acredita em acidentes
por
Luís Carlos Bolzan, especial para o Viomundo
Os
últimos dias, destes primeiros de 2017, tem sequência de fatos dignos de
roteiros de Agatha Christie.
Nesta
quinta-feira, 19 de janeiro, caiu o avião em que viajava o Ministro do Supremo
Tribunal Federal Teori Zavascki, relator da Lava Jato, tirando a vida do
magistrado, além de outras três pessoas que estavam no avião que ia de São
Paulo para Paraty/RJ.
Teori
era o responsável, na condição de relator, por homologar delações de 77
executivos da Odebrecht que denunciam cerca de 200 políticos. O Ministro também
iria, segundo relatos da imprensa, retirar sigilo das delações nos próximos
dias. Além desta, outra delação de proporções gigantescas estava sendo
preparada, a da Camargo Corrêa, com conteúdo explosivo, podendo atingir
integrantes do Judiciário e os até aqui intocáveis tucanos de fina plumagem.
Zavascki
foi ainda o Ministro que repreendeu o juiz Sérgio Moro pelo vazamento ilegal de
conversa telefônica da Presidente Dilma Rousseff com o ex-Presidente Lula em
2016.
A morte
de Teori foi precedida, na semana anterior, por insólita viagem do presidente
da República Michel Temer (PMDB) para Portugal, acompanhado do Ministro Gilmar
Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
Ambos
compartilharam o avião presidencial em viagem para acompanhar enterro do líder
português Mário Soares. Nenhum senão, não fosse pelo fato de Temer ser réu em
processo que será julgado no TSE presidido por Gilmar Mendes.
Muitas
horas na viagem entre Brasil e Portugal para que julgador e réu pudessem
conversar. Aliás, que lugar seria mais seguro para conversa entre ambos, que em
voo no avião presidencial? Gilmar Mendes sequer compareceu aos atos fúnebres de
Soares, alegando labirintite. O teor da conversa entre Temer e Mendes não foi
divulgado.
Não
bastasse isso, outro fato insólito ocorre esta semana. O Procurador Geral da
República Rodrigo Janot, vai a Davos na Suíça para participar do Fórum Mundial
realizado naquela cidade, que reúne a nata do capitalismo planetário. Durante a
quermesse rentista especulativa, Janot sentencia que “a lava jato é pró
mercado”.
Estranhamente,
a Lava Jato que vinha sendo difundida desde seu início como “contra a
corrupção”, passa a ser apresentada pelo Procurador Geral da República como
“pró mercado”.
Difícil
entender como ser “contra a corrupção” pode ser “pró mercado”, justo a
corrupção que se apresenta como interesse de forças privadas em desvirtuar o
estabelecido legalmente para garantir interesse coletivo a fim de se apropriar
indevidamente do que é público, tirando vantagem para indivíduo ou grupo
específico em detrimento de interesse coletivo.
A
corrupção abundante no caso da Lava Jato é exatamente isto. Interesses
privados, de grupos do mercado, usando de ardis e recursos econômicos para
corromper e garantir mais recursos públicos e influência política.
A Lava
Jato deveria ser pelos interesses público e coletivo, respeitando a
Constituição Federal. Ao escolher ser pró mercado, escolhe priorizar interesses
de mercado em detrimento do interesse coletivo. Ninguém serve a dois deuses.
Lava Jato escolheu o deus mercado, relegando o deus popular da democracia e sua
criação, a Constituição Federal, a mero fetiche subalterno.
Teori
Zavascki morreu, e assim, deixa de comandar relatoria no STF.
Aliás,
vale lembrar trecho de conversa entre o delator Sérgio Machado e senador Romero
Jucá (PMDB) interceptada pela Polícia Federal e fartamente divulgada em 2016.
Na célebre conversa em que afirmam ser necessário estancar a lava jato, Machado
diz que deveriam agir sobre Teori, ao que Jucá retruca dizendo que não dá, por
ser o ministro do STF muito reservado, “um burocrata indicado por ela (Dilma)”.
Ainda
em no ano passado, em maio, filho de Teori, Francisco Prehn Zavascki, posta no
facebook referência a ameaças que família vinha sofrendo em função da lava
jato, e que se algo acontecesse a um dos membros da família, todos já saberiam
em que direção procurar os responsáveis.
Aliás,
o acaso ou a coincidência parece incapaz de explicar o ocorrido.
São
muitas variáveis implausíveis ocorrendo simultaneamente, criando enore
constrangimento de ser explicada racionalmente pela ciência da estatística.
Variável 1: acidente de avião. Variável 2: ministro do STF. Variável 3: relator
da Lava Jato. Variável 4: anúncio dois dias antes que derrubaria sigilo das
delações da Odebrecht. Variável 5: Presidente da República delatado na lava
jato. Variável 6: Presidente da República ser quem indica substituto do
ministro falecido. Variável 7: Senado com vários delatados ser instância que
sabatina ministro indicado. Variável 8: filho ter feito postagem e denunciado
publicamente ameaças que família vinha recebendo.
Considerando
apenas estas variáveis, seguramente se torna improvável explicação pela
estatística. A combinação das mesmas parece sucumbir à lógica matemática, sendo
mais razoável recorrer à dialética.
Em um
país em que várias autoridades faleceram em situações semelhantes fica difícil
desconsiderar outras possiblidades, como faz parecer o discurso definido tipo
linha editorial de um grande jornal, da simples fatalidade.
Vale
lembrar a morte por acidente aéreo do presidente ditador Castelo Branco em
1967, a morte de Ulisses Guimarães em acidente de helicóptero, ou ainda a morte
de Eduardo Campos durante campanha presidencial em 2014, para ficar em
acidentes aéreos apenas.
Poderíamos
lembrar da morte de JK em acidente de carro, da morte de Tancredo Neves às
vésperas de assumir presidência quando da reabertura e fim da ditadura, ou até
mesmo do ditador Costa e Silva em 1969, quando queria assinar fim do AI-5.
Com
esta lista macabra como deveríamos perceber mais esta morte? Como mais um
“acidente pavoroso” ao estilo Temer? Ou diríamos como ministra Carmen Lúcia que
“o escárnio venceu o cinismo”? Seria apenas mais “um tropeço da democracia”
ministro Levandowski? Ou,de fato, Dr. Janot tem razão e “a Lava Jato é pró
mercado”, deixando explícita esta inclinação?
Na
linha do “escárnio venceu o cinismo” que pouco se importa com tantos citados,
delatados, investigados e réus no governo, já surgem os oportunistas para
pressionarem que o réu na ONU, juiz Moro seja indicado para a cadeira ainda
quente do falecido Teori Zavascki, no STF.
Diferentemente
dos roteiros de Agata Christie em que Mr. Poirrot ou Miss Marple sempre
desvendavam os fatos e descobriam os culpados, creio que esta trama não terá
esta sorte.
Talvez
mais importante que responder quem é culpado, devamos nos perguntar a quem
beneficia a morte, por acidente ou não, do ministro indicado pela Presidente
Dilma Rousseff, relator da Lava Jato, Teori Zavascki?
Seja
quem for que você responda, certamente é (são) sujeito(s) de muita sorte.
Ou será
que não? O fato é que a besta do sistema corrupto respira, esperneia,
desesperada e despudoradamente sem limites, para manter tudo em seus diletos
lugares político e social, a impunidade e a desigualdade.
Afinal,
a democracia brasileira é um acidente de curta duração entre golpes
meticulosamente planejados, até este momento. A superação dialética ainda está
por vir.
Compartilhado
do facebook - fonte: viomundo
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