No dia em que Temer completou um ano de governo ilegítimo, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse, em entrevista exclusiva ao 247, que foi "um ano trágico para o Brasil e para os brasileiros"; "Na realidade, depois que esse governo entrou, depois que houve o golpe e a constituição foi rasgada abriram-se as portas do inferno. Todos os demônios estão pairando sobre o povo brasileiro", disse; ela não acredita em sua promessa de pacificar o Brasil: "Só uma coisa pacifica o país: eleições gerais diretas. Já. Antecipadas. Em outubro de 2017. Fora isso, está se levando o país para uma convulsão social"; ela critica o PMDB que se alinha para votar a favor das reformas Temer-Meirelles e afirma que "o juiz Sérgio Moro não consegue esconder que tem um lado, que está fazendo um embate com o presidente Lula, uma disputa"
Por Alex Solnik - No dia em que Temer completou um ano de governo ilegítimo, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse, nessa entrevista exclusiva ao 247, que foi "um ano trágico para o Brasil e para os brasileiros".
"Na realidade, depois que esse governo entrou, depois que houve o golpe e a constituição foi rasgada abriram-se as portas do inferno. Todos os demônios estão pairando sobre o povo brasileiro", declarou.
Ela não acredita em sua promessa de pacificar o Brasil: "Só uma coisa pacifica o país: eleições gerais diretas. Já. Antecipadas. Em outubro de 2017. Fora isso, está se levando o país para uma convulsão social".
Critica o PMDB que se alinha para votar a favor das reformas Temer-Meirelles: "O PMDB, que é um partido que deu a constituição cidadã com o doutor Ulysses, que modificou a legislação brasileira para melhorar a vida do povo agora está desfazendo tudo isso num processo rapidíssimo".
E não admite tramitação urgente: "É um escândalo esse governo dizer que o Senado tem que aprovar a reforma trabalhista como veio da Câmara".
Presente à oitiva de Lula em Curitiba, espantou-se com o aparato policial inusitado: "Concentraram toda a tropa pra ficar em redor ao juiz Sérgio Moro, gastando dinheiro público e deixando o resto da cidade sem efetivo policial".
"O juiz Sérgio Moro não consegue esconder que tem um lado, que está fazendo um embate com o presidente Lula, uma disputa".
A senadora comenta a decisão do juiz substituto de Brasília que mandou fechar o Instituto Lula um dia antes da oitiva: "Sem precedentes isso, né, só comparável ao que nós tínhamos na ditadura militar".
Provável nova presidente nacional do PT afirma que Lula será o candidato do partido em 2018: "Ah, é oficial! É a nossa candidatura, não tenho dúvidas disso".
Que ano, hein?! Que balanço você faz desse um ano de Temer completado hoje?
Um ano trágico pro Brasil e pro povo brasileiro. Nós, quando falávamos aqui da tribuna do Senado há um ano que o afastamento da Dilma ia iniciar uma desestabilização profunda no país e trazer resultados muito amargos para a população brasileira prevíamos que ia acontecer exatamente isso. Tiraram a presidenta Dilma prometendo melhoras e mudanças no cenário da economia nacional e também melhorar a vida da população e o que nós vemos até agora é exatamente o contrário. Tudo o que podia estar ruim naquele momento piorou consideravelmente, estamos com 14 milhões de desempregados, a economia está no chão, ainda mantemos a taxa de juros reais mais alta do mundo e a proteção social do povo brasileiro está sendo desmontada pelas reformas.
Quem pagou esse impeachment?
Aqui tem a prevalência dos interesses do capital financeiro. Como diz o Requião, do “capital vadio”, aquele que não produz um botão e que disputa no orçamento da União constantemente os recursos públicos. E levou consigo, numa linguagem fácil, articulada, setores produtivos da sociedade. Que, penso eu, agora estão muito arrependidos com a situação. Porque a indústria brasileira, que teve do presidente Lula, da presidenta Dilma toda uma atenção acaba agora ficando à deriva. Não temos mais política de conteúdo nacional, de fortalecimento da indústria nacional, não temos mais política de crédito...
O que sustenta um governo que é rejeitado por 90% da população?
O Congresso Nacional e o sistema financeiro. Com uma midia que opera constantemente a favor deles.
Ele tem dito e a imprensa repercute que quer pacificar o país. Você acha possível pacificar o país dizendo à população que ela tem ficar contente por ganhar menos e trabalhar mais?
Só uma coisa pacifica o país: eleições gerais diretas. Já. Antecipadas. Em outubro de 2017. Fora isso, está se levando o país para uma convulsão social. Não pensem que aqueles que já tiveram seus direitos protegidos, já exerceram esses direitos, tiveram melhoria nas condições de vida nos governos do Lula, da Dilma, da constituição de 1988 pra cá vão aceitar mansamente as mudanças que estão sendo feitas. É um acinte ao povo trabalhador. Ontem nós tivemos a primeira audiência da reforma trabalhista aqui e algumas pessoas que vieram, inclusive juízes de Direito do Trabalho, professores de universidades públicas vieram aqui defender a reforma. Eles defendem a reforma porque eles têm estabilidade no emprego, eles têm férias duas vezes por ano, eles não vão ter problema com trabalho intermitente, não vão ser demitidos coletivamente, não vão ter só meia hora de almoço, então é essa gente que vem pra dentro do Congresso fazer a defesa da reforma que retira direitos dos trabalhadores.
Parece que o Jucá já cooptou toda a bancada do PMDB que estava com Renan, não sei se você chegou a ler, saiu no Globo de hoje na coluna do Moreno...
Não li, não...
Ele acabou de cooptar os três últimos que resistiam, só Requião continua com Renan contra a reforma. Acabou de cooptar a Kátia Abreu, o Eduardo Braga e o Hélio José. Isso não é compra de votos?
Isso é uma vergonha, é um escândalo! O PMDB, que é um partido que deu a constituição cidadã com o doutor Ulysses, que modificou a legislação brasileira para melhorar a vida do povo agora está desfazendo tudo isso num processo rapidíssimo. Pra não ter que enfrentar a discussão popular. É um escândalo esse governo dizer que o Senado tem que aprovar a reforma trabalhista como veio da Câmara, porque depois ele vai colocar uma medida provisória pra melhorar. Melhorar o que? É escandaloso o que estamos vendo, eu nunca pensei que iria vivenciar algo assim.
Você que esteve em Curitiba... o que foi aquele aparato militar que armaram no depoimento do Lula, mais de 1800 PMs cercando o prédio, eles estavam esperando o que? A invasão dos hunos???
É quem não conhece o povo, né, Alex. Não conhece os movimentos sociais. Que achava que quem foi a Curitiba prestar solidariedade a Lula, defende-lo ia lá pra invadir a Justiça Federal! A gente que conhece o povo, os movimentos sociais, sabe como as coisas se dão, sabia que não ia acontecer isso. Mas quiseram mostrar força, mostrar que têm comando. E aí fizeram um gasto exorbitante da Polícia Militar, concentraram toda a tropa pra ficar em redor ao juiz Sérgio Moro, gastando dinheiro público e deixando o resto da cidade sem efetivo policial. Uma vergonha! E mostra a visão autoritária que essa gente tem sobre a sociedade. Muito ruim.
O que você está achando da escalada autoritária? Um juiz substituto mandou fechar o Instituto Lula por suspeita de que lá aconteceram atos criminosos...
Sem precedentes isso, né, só comparável ao que nós tínhamos na ditadura militar. Na realidade, depois que esse governo entrou, depois que houve o golpe e a constituição foi rasgada abriram-se as portas do inferno. Todos os demônios estão pairando sobre o povo brasileiro. E essa questão da repressão, da violência, é algo que está muito forte, mas são os sinais que o próprio governo emite para a sociedade, é a postura que tem, é um governo autoritário que não conversa com os movimentos sociais, que recebe os índios com balas de borracha, com bomba de gás, que coloca polícia para confrontar manifestantes em praça pública, que faz com que a polícia seja violenta, por uma ação política, é a polícia que bate em estudante, que manda um menino para a UTI, é o governo que incentiva que ruralistas possam atacar os sem-terra, temos trabalhadores mortos, cabeças decepadas, é o governo que estimula que agricultores ataquem os índios. Nós estamos vivendo uma instabilidade completa na sociedade brasileira. Um retrocesso para a nossa democracia. Mas por postura desse governo. Da forma como ele se comunica com a sociedade e incentiva principalmente a sua bancada conservadora e retrógrada aqui no Congresso Nacional.
E o que você achou do interrogatório do Moro?
Eu achei que o presidente Lula foi muito bem. Estava firme, respondeu todas as perguntas, não titubeou em nenhuma, falou o que pensava e o que era importante para o juiz Sérgio Moro. O juiz Sergio Moro também não se pode dizer que foi desrespeitoso, porque não foi, mas com perguntas muito miúdas, perguntas muito pequenas, até mesquinharias. Então, acho que o Lula saiu maior desse depoimento do que entrou.
Moro entrou em vários assuntos que não tinham nada a ver com o julgamento, até o mensalão...isso pode?
Até o advogado do presidente Lula protestou e com razão: não podia ter entrado. Mas é a visão da politização do processo judicial: o juiz Sérgio Moro não consegue esconder que tem um lado, que está fazendo um embate com o presidente Lula, uma disputa. Inclusive retórica e de narrativa do momento que estamos vivendo. Então, ele acaba fazendo isso, mostrando que o processo jurídico na verdade é um processo em que ele é parte e que há interesse político.
Também parece que ele não tem provas...concorda?
Nenhuma prova! É escandaloso! Como é que alguém vai fazer um interrogatório e não apresenta nenhuma prova! A única que ele quis apresentar era um papel que disseram ter achado na casa do presidente Lula, que poderia ser um contrato, não tinha assinatura. Ele perguntou ao presidente o que aquilo significava. O presidente falou: nada, não tem assinatura nenhuma, está significando o que? Como é que um processo pode ser conduzido dessa maneira? Acho que a palavra de ordem que nós temos que ter para o juiz Sérgio Moro é: onde estão as provas contra o presidente Lula?
Ele próprio sabe que não tem provas, por isso entrou em outros assuntos porque dão ensejo a insinuações, suspeitas, a acirrar mais o ódio. O que está em julgamento é a posse do triplex...
Claro...
É como o caso da Dilma. Não te parece haver semelhança...?
Entre o impeachment e essa situação? É... Exatamente, pega-se uma questão que é objetiva pro julgamento, que não tem provas e aí começa a fazer uma série de ilações sobre outros assuntos pra tentar uma sentença que no contexto pareça correta, pareça legal. É uma barbaridade isso.
Uma sentença que agrade aos torcedores...
Sim.
O Moro tem que agradar aos apoiadores dele...
Exatamente. Tem que discursar pra torcida. Aliás, a fala dele antes da oitiva do presidente Lula demonstrou isso, pedindo aos apoiadores da Lava Jato e ele é o patrono da Lava Jato que não se manifestassem, ficassem em casa, não fossem às ruas. Um juiz de Direito que tem que ter um desempenho republicano, se estivesse com medo de situações de violência ou confronto nas ruas deveria fazer um chamado geral, não apenas aos que o apoiam. Um juiz não pode ter apoio, um juiz tem que se conduzir pelo devido processo legal. E definir dentro do processo, não politizá-lo.
O que mais preocupa é que as instâncias superiores parecem aprovar esse comportamento.
Eu espero que o Supremo Tribunal Federal acorde para isso, está mudando um pouco a sua postura. Mas, de fato, nós ficamos com nossas instâncias superiores muito voltadas a satisfazer a opinião pública e o desejo da imprensa. A Justiça tem que buscar a verdade, não a opinião pública.
É um círculo vicioso: Moro alimenta as manchetes, que alimentam a turba e o ódio e a turba exige que ele corte os pescoços, escolhe quem deve ir para a guilhotina. Um retrocesso de 200 anos.
Com certeza. Vamos considerar que escolhe com as versões e com as informações passadas pela mídia que já tem uma opinião favorável a quem quer degolar o presidente Lula. Então, forma-se a opinião pública numa manipulação muito grande e estimula-se a opinião pública a pedir o linchamento, a pedir a punição. Tempos muito obscuros estamos vivendo na nossa história, muito obscuros.
A Globo News passou ontem o dia todo falando no interrogatório. Era um “júri” de comentaristas condenando o Lula.
E todo mundo ditando regras! Dando orientação moral! Como se fossem os paladinos da justiça, da moralidade e dos bons costumes. Ninguém tem capacidade ali de fazer uma autocrítica, inclusive fazer uma autocrítica em relação ao veículo em que trabalha. É lamentável a gente ver isso.
Só num certo momento a Eliane Cantanhede disse que um triplex parecia uma coisa pequena como suborno de um presidente.
Pois é. E pra fazer toda essa discussão, toda essa balbúrdia...tudo o que está sendo feito é muito pequeno, é realmente uma coisa...você tem razão: parece o impeachment!
Não tinha provas contra Dilma e no entanto se formou aquela “convicção”...
... uma convicção de que tudo estava mal e tinha que mudar...
A sensação agora é que Moro não tem provas, mas vai condenar o Lula, não te parece? É isso o que a torcida dele espera: a condenação. Se não condenar vai decepcionar a turba.
Ele não tem uma responsabilidade com a verdade. Ele tem compromisso com a opinião pública.
Exatamente. Não consigo entender como uma figura como ele pode despertar tanta admiração. Ou João Dória. Você consegue entender? Tá na cara que são falsos profetas, falsos salvadores da Pátria.
É uma coisa assim de facilitar a vida. Alguém tem que fazer por mim. Esses têm que fazer para que eu não me preocupe, é um pouco isso, aquela visão mais paternalista da vida pública. Mas a sociedade está voltando a ter uma consciência mais crítica do que está acontecendo, uma parte que apoiou o impeachment, que estava contra o presidente Lula, contra o PT, está começando a ver que era um exagero muito grande em tudo isso. Isso acaba despertando uma consciência mais política. As pessoas mudando de posição.
Essa desaprovação maciça a Temer é uma coisa absurda, como é que um presidente pode governar para apenas 9% do país?!
Apoiado por essa grande articulação institucional retrógrada: mídia, sistema financeiro e uma parte do Poder Judiciário.
Uma grande parte. Uma juíza de Curitiba proibiu o acampamento dos manifestantes pró-Lula...
Sim... militante de redes sociais contra Lula, contra Dilma...
Como é que pode julgar um caso em que já mostrou de que lado está?
Juiz não tem que dar entrevista. Juiz, promotor. Não tem que falar publicamente. Tem que falar nos autos e observar o devido processo legal. Se quiser fazer diferente, vem pra cena política. Se submete a uma eleição, disputa uma eleição e aí fala, na política.
O que você achou de colocarem Moro em pesquisa presidencial?
Um absurdo! Tanto o Moro quanto Joaquim Barbosa! Um juiz tem que cumprir a função jurisdicional. E não fazer sensacionalismo pra opinião pública. Juiz tem que ter compromisso com a verdade. Se ele acha que isso não é o suficiente pra ele entra em cena em outra área, que é a área política e aí faz a disputa política.
Você é uma forte candidata a presidente do PT. Como o PT tem que se comportar nesse momento?
O PT tem uma grande responsabilidade com o país. O dever com o país de apresentar propostas para sair dessa crise e estar ao lado do povo brasileiro nas lutas contra as reformas. O lugar do PT é ao lado dos movimentos sociais, é nas ruas pra combater esse governo. E começar uma campanha forte para que a gente tenha eleições diretas o mais rápido possível, antecipando as eleições gerais para 2017. E oferecer ao povo brasileiro uma alternativa a essa crise toda que estamos vivendo.
As eleições se darão na primeira semana de junho. Você acredita na vitória?
O nome do senador Lindenbergh está colocado e tem mais um rapaz da Bahia, do movimento negro. Mas eu acredito que a gente tem condições de chegar ao congresso num processo de maior unidade. Acho que o PT precisa de unidade, até pela responsabilidade que tem com o país.
A candidatura Lula já é oficial?
Ah, é oficial! É a nossa candidatura, não tenho dúvidas disso. Ele foi estimulado a sair por tudo isso que está acontecendo com ele e por tudo que ele está vendo no Brasil. E ele está falando uma coisa muito legal: que está estimulado pra fazer isso, mas não é para fazer o que já fez, é para fazer mais e melhor.
Depois de tanto bombardeio ele continua em pé.
Ele é um fenômeno, nunca vi nada igual. Porque tem saudades na cabeça do povo brasileiro do governo dele. As pessoas lembram que tinham emprego, a questão da renda, vivia-se melhor...
Ele é a cara do povo... o Temer não tem nada a ver com o povo brasileiro.
Nada, nada. Completamente fora. É algo distante. O Lula, não; é a cara do povo. Continua com a mesma simplicidade, anda no meio das pessoas.
Aguentar Temer até 2018 é possível?
Nossa, destrói o país! Se ele ficar até 2018, destrói o país. É como diz o Lula: eu posso esperar, quem não pode esperar é o povo brasileiro, sob pena de o país depois ficar ingovernável e tudo ser destruído.
Fonte: Brasil 247
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