O debate entre os candidatos da Rede TV na noite desta sexta
(18), sem Lula, foi absolutamente irrelevante. Não tem peso sobre o rumo das
eleições, não interfere nas pesquisas e, mais uma vez, quem dele saiu vencedor
foi Lula. O tema de ontem e hoje no país não é o debate, mas a decisão da ONU
sobre Lula -isto é o que polariza o país. A ausência de Lula denuncia a
injustiça contra ele -por isso, a cada debate sem sua presença, ele é o grande
vitorioso.
Há analistas que alardeiam um suposto "prejuízo
brutal" para Lula e o PT por sua ausência nos debates. Ora, se os debates
nas TVs fossem relevantes e a ausência de Lula um enorme prejuízo para sua
candidatura, porque Lula não cai nas pesquisas?
Um interessante estudo feito
pela Nexo que
demonstra como, historicamente, os debates no primeiro turno são irrelevantes.
Nas eleições de 1989, 1994 e 1998 os líderes (Collor e FHC) ignoraram
olimpicamente os debates -e sequer havia rede social à época. O mesmo aconteceu
com Lula em 2006. Em 2010, Dilma deixou de ir a dois debates. O fato é que para
os líderes nas pesquisas, os tais debates não têm importância.
Talvez fosse mais apropriado qualificá-los de
"debates", assim mesmo, entre aspas. Não há debates no sentido
estrito da palavra. Eles são interditados pela quantidade de candidatos
presentes e o formato dos programas, "candidato pergunta para
candidato" e "jornalista pergunta para candidato" numa dinâmica
de 30 segundos para perguntas, 1 minuto para respostas e 45 segundos para
réplicas (os tempos-padrão dos programas de TV entre candidatos).
Em boa parte das confrontações, existe mesmo é um diálogo de
surdos. Um candidato pergunta, fazendo introdução para falar do que lhe
interessa, o outro responde o que lhe interessa sobre o assunto que considerar
mais interessante e na réplica o perguntador retoma o assunto de seu interesse.
Os jornalistas, em geral, esforçam-se para aparecer mais que os candidatos, nos
seus segundos na ribalta. Um deles foi exemplar, no debate entre candidatos ao
governo de São Paulo, ao perguntar sobre uma lei que limita a caça de javalis
no estado -isso mesmo, caça de javalis.
Os debates reduzem-se a este amontoado de solilóquios ou então a
confrontos eventuais entre os candidatos -que no mais das vezes buscam parecer
preocupados com "programa de governo" do que com o embate com o
adversário, com medo de aparecerem como antipáticos. Nestes confrontos, importa
menos o tema e mais a performance de cada um para que os jornais e programas de
TV no dia seguinte possam decretar quem "ganhou" e quem
"perdeu". Subsidiariamente, servem para gerar alguns memes para
agitar as redes sociais. Por isso, os tais "debates" assemelham-se
cada dia mais a "programas de auditório" entre candidatos que
efetivamente com debates com alguma relevância.
Servem, os debates no primeiro turno, à indústria da informação
e do entretenimento do jornalismo conservador que escorrega numa decadência a
olhos vistos. Para a estratégia do PT, os debates são de fato sem qualquer
expressão. Como se diz popularmente, não cheiram nem fedem. Como aconteceu no
passado com Collor, FHC, o próprio Lula e Dilma.
No segundo turno a história é outra, porque então há de fato
confrontação entre propostas para o país e visões de mundo, quando no meio de
todo o show business eleitoral é possível que o eleitorado divise o que
verdadeiramente está em jogo nas eleições. Isso se houver segundo turno pois,
se Lula for o candidato, a eleição deve ser resolvida em 7 de outubro.
É claro que é importante Lula e o PT ingressarem na Justiça para
assegurar seu direito de participar nos debates -mas é porque trata-se de um
tema de Justiça, e não de estratégia eleitoral.
MAURO LOPES - Jornalista e editor do 247 e do blog Caminho pra casa
Fonte: Brasil 247
Em boa parte das confrontações, existe mesmo é um diálogo de
surdos. Um candidato pergunta, fazendo introdução para falar do que lhe
interessa, o outro responde o que lhe interessa sobre o assunto que considerar
mais interessante e na réplica o perguntador retoma o assunto de seu interesse.
Os jornalistas, em geral, esforçam-se para aparecer mais que os candidatos, nos
seus segundos na ribalta. Um deles foi exemplar, no debate entre candidatos ao
governo de São Paulo, ao perguntar sobre uma lei que limita a caça de javalis
no estado -isso mesmo, caça de javalis.
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