
Sérgio Moro foi manchete de capa ao declarar que
"Jamais entraria para a política". Naquele momento, essa foi a
maneira encontrada por ele para escamotear que Lula não estava sendo julgado
por um Poder Judiciário minimamente neutro. Lula foi julgado e condenado por um
juiz atuando como político. Sérgio Moro é um juiz que já tinha lado escolhido
antes de iniciar qualquer julgamento, fazendo valer sua ideologia nas decisões
e julgando com propósitos eleitorais.
Integrantes do Ministério Público, do Poder Judiciário, como
todos nós, não estão imunes às questões ideológicas. Estas questões atravessam
toda a sociedade e dizem respeito às disputas políticas, econômicas, culturais;
conflitos que acontecem no campo dos valores e da compreensão do mundo.
Existe no Brasil uma hegemonia do capitalismo sem limites e
sem fronteiras. Juízes, desembargadores, ministros, integrantes do Poder
Judiciário não são imunes a essas disputas ideológicas que se travam no interior
da sociedade. Diversos deles assumem os valores e as práticas do
neoliberalismo, do privatismo, do individualismo, e levam essa visão reduzida e
distorcida do mundo para os seus julgamentos. Tornam-se políticos atuando em
papéis que deveriam ser de juízes, procuradores.
A interpretação das leis a partir de um claro viés político
e ideológico leva ao chamado lawfare, guerra jurídica, que ocorre quando se
utiliza as instituições para perseguir um adversário político. A falta de
provas contundentes, a utilização de absurdos indícios à guisa de provas, a
negação dos fatos e a velocidade do julgamento (para impedir que Lula fosse
candidato novamente) deixam claro, agora mais do que nunca, que Lula é um preso
político.
Tendo sido julgado por este Sérgio Moro que agora aceitou
ser ministro de Bolsonaro, Lula é um preso político. Diversas personalidades
brasileiras, que de modo algum podem ser consideradas simpáticas a Lula ou ao
PT, reconheceram desde o primeiro momento que o simples fato de Moro considerar
o convite já denunciava sua posição política. Posição esta que nunca paramos de
denunciar.
No exterior, a simples possibilidade de Moro assumir o
ministério da Justiça do candidato vencedor, após condenar à prisão seu
principal rival, já era vista com enorme assombro, denunciando de modo inegável
uma justiça absolutamente partidarizada. O fato de ter tirado o sigilo da
delação de Palocci durante o período eleitoral, sem qualquer razão prática para
isso, favorecendo a campanha de Bolsonaro, apenas deixava ainda mais claros
quais seus propósitos. Ainda mais porque a delação de Palocci foi negada pelo
Ministério Público Federal e denunciada por procuradores da Lava Jato como um
"blefe" que "nunca deveria ter existido".
Sérgio Moro é um político alinhado à direita, conservador,
que utilizou a Justiça para fazer valer propósitos seus que agora se mostram
claramente ilegais. Sérgio Moro é um político que se fez de juiz enquanto era
interessante aos propósitos dos que queriam tirar Lula da disputa eleitoral.
Agora, é premiado como cargo político que lhe cabe, negociado ainda durante a
campanha eleitoral

PATRUS ANANIAS
Ex-ministro do Desenvolvimento Social e do Desenvolvimento Agrário, é deputado federal pelo PT
Fonte: Brasil 247
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