A culpa é de Dilma
Quero me inteirar sobre o caso Delcídio e digito seu nome no Twitter.
Chego logo a uma nota fabulosa, escrita pela nova titular da coluna Radar, da Veja, a ex-Folha Vera Magalhães.
No mundo do jornalismo de nossos dias, não configura conflito de interesses Vera ser casada com um assessor de Aécio.
Bem, Vera reproduz uma frase atribuída à mulher de Delcídio, Maika.
Segundo Vera, num telefonema Maika revelou de quem é a culpa pelos infortúnios do marido.
É de Dilma, aquela fdp, diz a nota.
Quer dizer: a culpa não é de seu marido, com seu comportamento
indecente. Nem é dela mesma, que viu Delcídio gastar dinheiro em
proporções épicas, incompatíveis com um homem que deveria viver do
salário de senador da República.
Publicamos no DCM, neste sábado, o relato de um cronista social de Campo Grande sobre a festa de debutante de uma filha de Delcídio, em 2011.
Um trecho:
A noite ficará marcada na memória social de Campo Grande e de
Mato Grosso do Sul. Não apenas pela natural suntuosidade que sugeria a
atmosfera, mas pela singular energia que emanava em cada pedacinho da
festa. Parecia mágica. Num estonteante vestido, na parte de cima,
inteiro em Cristais Givenchy, com saia em tufos de tule dourado com
pastilha de paetês, confeccionado por Júnior Santaella especialmente
para ela, Maria Eugênia parecia flutuar.
Estava em casa, envolvida pela família, recebendo as amigas
exatamente do modo como havia imaginado. À irmã, Maria Eduarda, foi
entregue a missão de construir o espetáculo da alegria. Ao longo de um
mês, a mansão vinha se transformando para ser um espaço dourado de 1,6
mil metros, inteiramente coberto em teto transparente, onde frondosas
árvores naturais surgiam iluminadas na lateral do espaço.
Os grandes filósofos do passado coincidiam em dizer que, diante da miséria humana, é mais sábio rir do que chorar.
Riamos, então.
Maika organizou a festa, e sabe quanto foi gasto nela. Ela sabe também qual é o salário de senador do marido.
Mas não: não ocorreu a ela que havia uma fonte misteriosa de dinheiro para bancar a vida faustosa da família.
Ela lembra, neste caso, Claudia Cruz. Claudia levou uma vida de
princesa europeia sem, aparentemente, se perguntar como não faltava
dinheiro sequer para aulas de tênis numa das academias mais caras do
mundo, a de Nick Bolletieri, nos Estados Unidos. Ali foram revelados
jogadores como Agassi e Sharapova.
Milton Friedman, o grande economista conservador, disse celebremente que não existe almoço grátis. Alguém sempre paga a conta.
Mas para as mulheres de alguns políticos brasileiros é como se a vida em pleno fausto fosse gratuita.
Maika poderia talvez ter evitado os problemas que seu marido enfrenta hoje se fosse mais rigorosa com as contas domésticas.
Mas não.
Ela não tem culpa, de acordo com a nota de Vera Magalhães.
E nem seu marido.
A culpa, claro, é de Dilma, aquela fdp.
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Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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