Cara
Janaína:
Leio
que você se sente esquecida pelos homens a quem ajudou no golpe com seu parecer
a favor do impeachment.
Você
foi usada. Você foi comprada. Por 45 mil reais o PSDB obteve de você uma peça
que suprimiu 54 milhões de votos e interrompeu uma democracia tão jovem.
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Saiu
barato para os liderados pelo Decano do Golpe, FHC, e seu Robin, Aécio. Cada
real empregado neste projeto matou quase mil votos.
E
esqueceram você.
Não
se desespere, porém. Você será eternamente lembrada por brasileiros numa
quantidade infinitamente maior do que a soma de todos os golpistas.
Pertence
já à história o espetáculo em que você, como que possuída, girava a cabeça para
lá e para cá. Prometia matar a cobra, se me lembro.
Só
não foi o espetáculo mais patético do golpe porque, não muito tempo depois,
deputados corruptos agarrados a bandeiras disseram sim ao golpe em nome da
família quadrangular, dos maços, dos filhos e netos.
Também,
lembremos, em nome de pais e maridos. O marido homenageado foi preso por
corrupção no dia seguinte. O pai louvado teve o mesmo destino algumas semanas
depois.
Não
fossem os deputados, a performance em que você abateu um réptil,
previsivalmente viralizada nas redes sociais, seria o retrato perfeito do
golpe.
Você
será lembrada para sempre não como uma jurista, mas, e temos aí ao menos uma
rima, como uma golpista que se comportou como uma fâmula da plutocracia.
Você
excluiu do grupo que a largou o senador Aloysio Nunes. Cuidado, Janaína. Um
internauta notou, depois de saber disso, que a companhia do senador Aloysio é a
pior forma de solidão que um ser humano pode enfrentar.
Mulheres
usadas e abandonadas costumam comover. A literatura está cheia de casos assim.
Ana Karenina ainda hoje nos comove. Ema Bovary também. Gostaríamos de
abraçá-las e confortá-las em face de um universo masculino tão canalha.
Mas
você é um caso especial. Seu infortúnio não emociona. Não provoca lágrimas de
solidariedade. Gera, antes, um tipo de satisfação. É como se, afinal, alguma
justiça tivesse sido feita. Em vez de choro, risadas, ou mesmo gargalhadas, e
aquele brado imortal: “Bem feito!”
Montaigne
escreveu que a maldade traz seu próprio castigo. Penso nesta frase e acho que
ela se aplica perfeitamente a você.
Não
a esqueceremos.
Sinceramente.
Paulo
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site
de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Fonte: publicado pelo DCM - compartilhado do facebook

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